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RUY CASTRO
Por ruas limpas
RIO DE JANEIRO - Leio na Mônica que os jovens que invadiram a última Bienal e picharam seus vidros
e paredes foram convidados a participar oficialmente do evento este
ano. Ótimo. É a pichação, assim como aconteceu com o grafite, sendo
elevada à categoria de arte e, como
tal, digna de ser exposta em bienais,
mostras, retrospectivas.
Sou a favor de que a Bienal lhes
reserve enormes pavilhões, mesmo
porque a pichação exige fachadas
inteiras de edifícios, quando não
monumentos como o Cristo Redentor. Sou a favor também de que
museus como o Masp, o MAM do
Rio e o Mac, de Niterói, construam
anexos com paredes internas para
abrigar pichações permanentes,
talvez permitindo que, de dois em
dois meses, turmas diferentes de
pichadores façam intervenções sobre as pichações já existentes e se
esfolem uns aos outros.
Enfim, sou a favor de qualquer
medida que livre nossas ruas da
lambança promovida por esses
ágrafos cuja forma de preencher
seu vazio interior e pobreza de espírito é agredir a propriedade pública
ou privada. Aliás, não há muita diferença entre seus garatujos e certas
instalações em que tropeçamos nos
salões -basta que os ensaístas descubram neles os conteúdos que enxergam em caixas cheias de minhocas ou em um cachorro sendo deixado para morrer de fome e de sede
diante dos visitantes.
Não quer dizer que, se o mundo
das artes cooptar os pichadores,
eles deixarão de avacalhar as cidades. Vide o grafite. Para cada grafiteiro tirado da marginalidade e levado a expor em Berlim ou Amsterdã, as ruas ganham outros cinco
sub-Will Eisners com suas mesmas
figuras de língua de fora e olhos esbugalhados.
Não discuto que sejam "artistas".
Só o direito de o cidadão andar pela
rua sem ser assomado por desenhos
berrantes que não pediu para ver.
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