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São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Memória dos juros escorchantes

SÃO PAULO - Há muita mentira e política nas discussões sobre juros. Há também constrangimentos da realidade. O juro conveniente está em algum lugar entre os desejos de grupos sociais e os imperativos da vida real (inflação, falta de crédito etc).
Em 1998, quando ainda reinava a idiotice do real forte, os juros reais foram de 26%. A culpa era da inflação, dizia a claque fernandina (quase todo o mundo rico). Em 1999, com desvalorização e inflação maior, o juro médio caiu para 15%. Bidu.
Após 1995, o país só cresceu em 2000. Nos outros anos, a renda média real caiu ou estagnou. Em julho de 2000, a projeção da taxa de juros real era de 10% para os 12 meses seguintes. Agora, o juro real está nuns 17,5%. Dadas a taxa de captação em dólar das grandes empresas brasileiras e a projeção de inflação, o juro básico poderia estar hoje em cerca de uns 18%. Está em 26,5%. Estamos escorchados, não há como negar.
Mas o núcleo da inflação de 2003 é o mais alto desde o primeiro semestre de 1996. O crédito externo está mais escasso e caro. O investimento externo na produção cai. A dívida do governo está maior. O país obtém mais dólares pelo comércio externo, certo, mas ao custo de esgotamento da capacidade produtiva em setores essenciais, de base, da economia. É preciso mais investimento, que de resto vai demorar a maturar.
Decerto uma economia que cresce pouco atrai ainda menos investimento. Mas o mercado de capitais continua primitivo, não há financiamento para a construção civil e, se o país crescer rápido demais, não vai ter energia ou vai pagar a energia cara das termelétricas.
Os juros devem baixar, ok, com certeza em junho, e sem as besteirinhas de meio ponto percentual. Mas o juro alto é reflexo do desastre de FHC, que tanta gente apoiou. Sem mais investimento, teremos inflação ou risco sério no balanço de pagamentos (falta de dólares para pagar compromissos externos) em uns dois anos.



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