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VINICIUS TORRES FREIRE
Memória dos juros escorchantes
SÃO PAULO - Há muita mentira e política nas discussões sobre juros.
Há também constrangimentos da
realidade. O juro conveniente está
em algum lugar entre os desejos de
grupos sociais e os imperativos da vida real (inflação, falta de crédito etc).
Em 1998, quando ainda reinava a
idiotice do real forte, os juros reais foram de 26%. A culpa era da inflação,
dizia a claque fernandina (quase todo o mundo rico). Em 1999, com desvalorização e inflação maior, o juro
médio caiu para 15%. Bidu.
Após 1995, o país só cresceu em
2000. Nos outros anos, a renda média
real caiu ou estagnou. Em julho de
2000, a projeção da taxa de juros real
era de 10% para os 12 meses seguintes. Agora, o juro real está nuns
17,5%. Dadas a taxa de captação em
dólar das grandes empresas brasileiras e a projeção de inflação, o juro
básico poderia estar hoje em cerca de
uns 18%. Está em 26,5%. Estamos escorchados, não há como negar.
Mas o núcleo da inflação de 2003 é
o mais alto desde o primeiro semestre
de 1996. O crédito externo está mais
escasso e caro. O investimento externo na produção cai. A dívida do governo está maior. O país obtém mais
dólares pelo comércio externo, certo,
mas ao custo de esgotamento da capacidade produtiva em setores essenciais, de base, da economia. É preciso
mais investimento, que de resto vai
demorar a maturar.
Decerto uma economia que cresce
pouco atrai ainda menos investimento. Mas o mercado de capitais continua primitivo, não há financiamento
para a construção civil e, se o país
crescer rápido demais, não vai ter
energia ou vai pagar a energia cara
das termelétricas.
Os juros devem baixar, ok, com certeza em junho, e sem as besteirinhas
de meio ponto percentual. Mas o juro
alto é reflexo do desastre de FHC, que
tanta gente apoiou. Sem mais investimento, teremos inflação ou risco sério no balanço de pagamentos (falta
de dólares para pagar compromissos
externos) em uns dois anos.
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