São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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AOS PASSINHOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais uma de suas rotineiras manifestações públicas, reafirmou anteontem sua crença no acerto da atual política econômica, afirmando que "às vezes um passinho aqui e um passinho ali são mais sólidos do que um grande passo" -já que este poderia ocasionar, nas palavras presidenciais, "uma distensão muscular". A propósito, com declarações como essa, o presidente Lula vai acumulando uma quantidade de pérolas de sabedoria suficiente para, quem sabe em breve, publicar um compêndio reunindo o melhor de seu pensamento metafórico -obra análoga ao célebre "livrinho vermelho" do líder revolucionário chinês Mao Tsé-tung.
O presidente, diante da morosidade do Banco Central em reduzir a taxa de juros e da lentidão e timidez com que aparecem os resultados econômicos, notadamente aqueles referentes a emprego, renda e crescimento, voltou a insistir na tecla da paciência, agora, porém, ressaltando a necessidade de agir com cautela.
Em outras palavras, Lula praticamente admitiu que não deverá cumprir alguns de seus principais compromissos de campanha, a começar pela geração das vagas -estimadas em 10 milhões pelo PT- de que o país precisa. "Vai ser mais demorado", avisou, em suma, o presidente.
Quanto a isso, não teria sido preciso fazer anúncio, pois já não havia dúvida. A pretexto de "matar e esquartejar a inflação", como dizia o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e de transmitir uma imagem confiável do governo aos mercados, praticou-se no último ano uma política econômica extremamente restritiva (e recessiva), que perdeu oportunidades para reduzir a vulnerabilidade externa, com a aquisição de reservas, e estimular de forma mais eficaz a recuperação econômica.
Agora, ameaçado por turbulências externas, com a anunciada reacomodação dos mercados e a disparada do preço do petróleo, o governo vê sua margem de manobra se estreitar. E o país parece continuar condenado a andar aos "passinhos".


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