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AOS PASSINHOS
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, em mais uma de suas
rotineiras manifestações públicas,
reafirmou anteontem sua crença no
acerto da atual política econômica,
afirmando que "às vezes um passinho aqui e um passinho ali são mais
sólidos do que um grande passo"
-já que este poderia ocasionar, nas
palavras presidenciais, "uma distensão muscular". A propósito, com declarações como essa, o presidente
Lula vai acumulando uma quantidade de pérolas de sabedoria suficiente
para, quem sabe em breve, publicar
um compêndio reunindo o melhor
de seu pensamento metafórico
-obra análoga ao célebre "livrinho
vermelho" do líder revolucionário
chinês Mao Tsé-tung.
O presidente, diante da morosidade do Banco Central em reduzir a taxa de juros e da lentidão e timidez
com que aparecem os resultados
econômicos, notadamente aqueles
referentes a emprego, renda e crescimento, voltou a insistir na tecla da
paciência, agora, porém, ressaltando
a necessidade de agir com cautela.
Em outras palavras, Lula praticamente admitiu que não deverá cumprir alguns de seus principais compromissos de campanha, a começar
pela geração das vagas -estimadas
em 10 milhões pelo PT- de que o
país precisa. "Vai ser mais demorado", avisou, em suma, o presidente.
Quanto a isso, não teria sido preciso fazer anúncio, pois já não havia
dúvida. A pretexto de "matar e esquartejar a inflação", como dizia o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e de transmitir uma imagem
confiável do governo aos mercados,
praticou-se no último ano uma política econômica extremamente restritiva (e recessiva), que perdeu oportunidades para reduzir a vulnerabilidade externa, com a aquisição de reservas, e estimular de forma mais eficaz
a recuperação econômica.
Agora, ameaçado por turbulências
externas, com a anunciada reacomodação dos mercados e a disparada do
preço do petróleo, o governo vê sua
margem de manobra se estreitar. E o
país parece continuar condenado a
andar aos "passinhos".
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