|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Política industrial e de inovação
As novas disposições governamentais sobre política industrial
e estímulo à inovação estão ainda em
formatação. Elas representam uma
mudança de 180 graus na direção da
política que resultou da mistura de
ideologia e teoria econômica que dominou o país desde a aventura Collor.
Na verdade, a abertura comercial era
uma necessidade, mas a combinação
sinistra de redução simultânea de crédito, tarifas alfandegárias e taxa de
câmbio real revelou-se (como era de
esperar) um desastre para a agricultura e a indústria nacionais. Desastre
que, no setor industrial, não chegou a
ser superado até hoje. De 1990 a 2003,
o PIB industrial cresceu apenas 1% ao
ano! No setor agrícola, graças à intervenção governamental (negando a
"ideologia" dominante), com o programa Moderfrota, a situação se inverteu: depois de um crescimento ridículo de 1,8% ao ano entre 1990 e
1998, com o desenvolvimento de novas técnicas de plantio, mais crédito,
mais câmbio e o Moderfrota, ela cresceu à taxa de 5,4% ao ano.
O Moderfrota é um exemplo concreto de que a ação do Estado é insubstituível no estímulo ao crescimento econômico e de que a política
que considera estabilidade monetária
e inação do Estado condições necessárias e suficientes para o desenvolvimento é falsa. O Moderfrota demonstrou também que é ainda mais falsa a
tese, tão cara aos livre-cambistas nacionais, segundo a qual as vantagens
comparativas foram criadas por Deus,
com o espaço geográfico.
O novo modelo brasileiro de estímulo à indústria e à inovação parece ter
encontrado inspiração no coreano.
Em 1984, a Coréia era parecida com o
Brasil em matéria de comércio exterior. Em 2002, com um PIB nominal
de US$ 477 bilhões, ela realizou um
comércio externo da ordem de US$
315 bilhões (US$ 163 bilhões de exportação e US$ 152 bilhões de importação). Com uma abertura para o comércio exterior de 66% e um nível de
reservas da ordem de US$ 160 bilhões,
ela é hoje um dos países mais protegidos das flutuações da conjuntura externa. Conseguiu isso porque, depois
de ter "quebrado" em 1997, teve a coragem de corrigir o problema, voltando ao equilíbrio em um ano, com uma
profunda recessão, logo superada pelo
notável crescimento posterior (sem
déficits em conta corrente).
O que caracteriza o modelo coreano
é a integração, numa visão de longo
prazo, do governo com entidades privadas e universidades, numa rede de
planejamento e desenvolvimento tecnológico complementada por subsídios e recursos orçamentários. O seu
orçamento de pesquisa e desenvolvimento foi de US$ 2,5 bilhões em 1998,
passou a US$ 4,3 bilhões em 2002
(4,5% do Orçamento) e é estimado, no
programa de longo prazo, em US$ 25
bilhões para 2007 (7% do Orçamento). Ele é executado por meio das associações privadas das indústrias de diversos setores: Eiak (indústria eletrônica), Cosar (pesquisa em semicondutores), Koami (bens de capital), Koshipa (estaleiros), Kari (pesquisa aeroespacial), Kitech (tecnologia industrial) e outras, coordenadas pelo Ministério de Comércio, Indústria e
Energia. Esse conjunto é integrado
com as sete grandes universidades coreanas e obedece a um programa que
pensa o país duas décadas à frente e se
beneficia de subsídios do governo.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Os Bocages de Lula Próximo Texto: Frases Índice
|