São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Milionários e miseráveis

SÃO PAULO - Se a capa da Folha de ontem tivesse publicado juntos dois títulos que saíram separadamente, teria oferecido ao leitor um preciso instantâneo dos resultados das reformas ditas liberais feitas na América Latina a partir dos anos 90.
Um título dizia: "Peru decreta estado de emergência no sul do país". O outro anunciava: "Crescem os milionários na América Latina".
Seria suma ingenuidade supor que uma coisa não seja consequência da outra. É verdade que, no Peru, o estado de emergência se deve a protestos contra privatizações, mas eles só se tornam possíveis -e vigorosos- quando a situação social é ruim.
Na América Latina, sem praticamente exceções, a situação social é muito ruim, até mesmo no Chile, embora esse país leve a vantagem -sobre os vizinhos- decorrente do fato de que a democracia aumentou fortemente o gasto social na comparação com a ditadura de Augusto Pinochet (1973/ 1989), o que, até pela comparação, amenizou as coisas.
Não, não se preocupe o leitor liberal, não vou dizer que isso o corre por causa das privatizações, a moda dos anos 90 no subcontinente. No tempo da predominância do estatismo, eram igualmente lamentáveis a situação social e a concentração de renda.
Os pecados da privatização e das políticas ditas liberais são dois:
1 - Foi, no geral, conduto para uma catarata de corrupção de espantar até quem já havia se habituado ao padrão ético da região, não propriamente rígido.
2 - Foi vendida como a panacéia universal. Os governos, que não precisariam mais gastar dinheiro para fabricar aço ou para extrair petróleo, passariam a fabricar educação e saúde de qualidade para todos e a extrair a felicidade nacional bruta.
Ah, que bom se fosse tão fácil assim. Hoje, dá para ver que, em vez da felicidade nacional bruta, tais políticas ou produziram mais milionários e mais angústias sociais ou não foram capazes de evitar as feias chagas abertas em toda a região.



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