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CLÓVIS ROSSI
Milionários e miseráveis
SÃO PAULO - Se a capa da Folha de ontem tivesse publicado juntos dois títulos que saíram separadamente, teria oferecido ao leitor um preciso
instantâneo dos resultados das reformas ditas liberais feitas na América
Latina a partir dos anos 90.
Um título dizia: "Peru decreta estado de emergência no sul do país". O
outro anunciava: "Crescem os milionários na América Latina".
Seria suma ingenuidade supor que
uma coisa não seja consequência da
outra. É verdade que, no Peru, o estado de emergência se deve a protestos
contra privatizações, mas eles só se
tornam possíveis -e vigorosos-
quando a situação social é ruim.
Na América Latina, sem praticamente exceções, a situação social é
muito ruim, até mesmo no Chile, embora esse país leve a vantagem -sobre os vizinhos- decorrente do fato
de que a democracia aumentou fortemente o gasto social na comparação com a ditadura de Augusto Pinochet (1973/ 1989), o que, até pela comparação, amenizou as coisas.
Não, não se preocupe o leitor liberal, não vou dizer que isso o corre por
causa das privatizações, a moda dos
anos 90 no subcontinente. No tempo
da predominância do estatismo,
eram igualmente lamentáveis a situação social e a concentração de
renda.
Os pecados da privatização e das
políticas ditas liberais são dois:
1 - Foi, no geral, conduto para uma
catarata de corrupção de espantar
até quem já havia se habituado ao
padrão ético da região, não propriamente rígido.
2 - Foi vendida como a panacéia
universal. Os governos, que não precisariam mais gastar dinheiro para
fabricar aço ou para extrair petróleo,
passariam a fabricar educação e saúde de qualidade para todos e a extrair a felicidade nacional bruta.
Ah, que bom se fosse tão fácil assim.
Hoje, dá para ver que, em vez da felicidade nacional bruta, tais políticas
ou produziram mais milionários e
mais angústias sociais ou não foram
capazes de evitar as feias chagas
abertas em toda a região.
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