São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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DERROTA DO PLANALTO

A rejeição pelo Senado da proposta governista de aumento do salário mínimo não foi apenas uma derrota política do governo, mas um revés imposto ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro mandatário participou diretamente do esforço de convencimento de senadores para aprovar a medida provisória que fixa o mínimo em R$ 260. Não apenas deixou de colher o resultado pretendido, como viu três de seus correligionários votarem a favor da emenda do PFL, que eleva o valor para R$ 275. Foi a segunda derrota relevante do Planalto na Casa, que anteriormente derrubara, por 33 a 31 votos, a medida provisória da proibição dos bingos.
Não há dúvida de que o governo tem problemas importantes no Senado. E eles alimentam as desavenças no campo da articulação política e a inquietação da base aliada na Câmara. Dissemina-se a idéia de que cabe aos deputados oferecer respaldo a projetos pouco populares, ficando o Senado no papel mais confortável de rejeitá-las ou reformá-las. Em linguagem direta, um parlamentar vocalizou anteontem essa situação ao afirmar que os senadores aparecem sempre como "bonzinhos" e a Câmara como a "vilã".
Essa percepção cria mais dificuldades para o governo, especialmente tratando-se de um período pré-eleitoral, quando o instinto dos políticos procura evitar a todo o custo o desgaste de apoiar medidas tidas como impopulares. Pode-se esperar, nesse quadro, que o governo seja pressionado para fazer novas concessões.
Do ponto de vista da coordenação política, o episódio reforça a deplorável refrega entre os ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo, da Articulação Política. A insatisfação do PT com o afastamento de Dirceu irá recrudescer -e estará amparado pelo fato de que os dois insucessos no Senado se deram sob a gestão de Rebelo, do PC do B.
É previsível que o Planalto deflagre uma ofensiva na Câmara e acabe conseguindo reverter a decisão. Será difícil, no entanto, evitar uma nova rodada de mudanças ministeriais, mesmo que após as eleições, com vistas a aplacar a atmosfera de discórdia e intrigas que convulsiona a coordenação política do governo.


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