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DERROTA DO PLANALTO
A rejeição pelo Senado da proposta governista de aumento
do salário mínimo não foi apenas
uma derrota política do governo,
mas um revés imposto ao próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro mandatário participou
diretamente do esforço de convencimento de senadores para aprovar a
medida provisória que fixa o mínimo
em R$ 260. Não apenas deixou de colher o resultado pretendido, como
viu três de seus correligionários votarem a favor da emenda do PFL, que
eleva o valor para R$ 275. Foi a segunda derrota relevante do Planalto
na Casa, que anteriormente derrubara, por 33 a 31 votos, a medida provisória da proibição dos bingos.
Não há dúvida de que o governo
tem problemas importantes no Senado. E eles alimentam as desavenças no campo da articulação política
e a inquietação da base aliada na Câmara. Dissemina-se a idéia de que
cabe aos deputados oferecer respaldo a projetos pouco populares, ficando o Senado no papel mais confortável de rejeitá-las ou reformá-las. Em
linguagem direta, um parlamentar
vocalizou anteontem essa situação
ao afirmar que os senadores aparecem sempre como "bonzinhos" e a
Câmara como a "vilã".
Essa percepção cria mais dificuldades para o governo, especialmente
tratando-se de um período pré-eleitoral, quando o instinto dos políticos
procura evitar a todo o custo o desgaste de apoiar medidas tidas como
impopulares. Pode-se esperar, nesse
quadro, que o governo seja pressionado para fazer novas concessões.
Do ponto de vista da coordenação
política, o episódio reforça a deplorável refrega entre os ministros José
Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo,
da Articulação Política. A insatisfação do PT com o afastamento de Dirceu irá recrudescer -e estará amparado pelo fato de que os dois insucessos no Senado se deram sob a gestão
de Rebelo, do PC do B.
É previsível que o Planalto deflagre
uma ofensiva na Câmara e acabe
conseguindo reverter a decisão. Será
difícil, no entanto, evitar uma nova
rodada de mudanças ministeriais,
mesmo que após as eleições, com
vistas a aplacar a atmosfera de discórdia e intrigas que convulsiona a
coordenação política do governo.
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