|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Dinheiro e sangue
RIO DE JANEIRO - Esforço meritório, mas parece que inútil, o do
deputado Fernando Gabeira em levar adiante a CPI que investigará o
escândalo das ambulâncias. Meritório porque o Congresso precisava
fazer alguma coisa para apurar as
denúncias que envolvem alguns de
seus membros. Inútil porque, apesar da seriedade de Gabeira e de outros congressistas em apurar os fatos, o tempo e o modo fatalmente
impedirão que os trabalhos da comissão cheguem a um resultado
que puna os culpados.
Mais alguns dias, toda a classe política, principalmente os parlamentares, entrarão em ritmo de campanha eleitoral, com os compromissos das bases em primeiro plano.
Bem verdade que poderá ser montado um esquema que dê início aos
trabalhos, mas qualquer CPI envolve uma complicada logística, com
prazos regimentais, idas e vindas
aos tribunais -tivemos farta experiência com as comissões que encerraram os trabalhos deixando um
travo de frustração na sociedade e,
honra seja feita, na própria classe
política, quando alguns de seus
membros tudo fizeram para impedir a pizza finalmente servida de diversas maneiras.
Devemos reconhecer o esforço de
Gabeira e de outros congressistas,
eles farão tudo para que a CPI chegue aos culpados e os puna. Mas a
realidade do calendário e os mil e
um recursos que serão usados pelos
suspeitos não darão condições às
conclusões finais que mostrarão
como foi montado um dos mais indecentes -e cruéis- escândalos de
uma era já marcada por suculentos
escândalos que estarreceram a moralidade pública e chegaram a
ameaçar a confiabilidade de nossas
instituições mais caras.
O impasse do Congresso é na base do bicho correr ou ficar: na primeira hipótese, o bicho pega, na segunda, o bicho come. Um bicho sujo
de dinheiro e sangue.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Atraso na comunicação Próximo Texto: João Sayad: Koffi Annan Índice
|