São Paulo, sexta-feira, 19 de junho de 2009

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Editoriais

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Segunda divisão

TUDO O que o Brasil disser sobre a crise do Irã -um país distante, com o qual mantém laços comerciais incipientes e relação política mínima- terá peso irrisório no jogo diplomático internacional. Faz-se a constatação com certo alívio, depois das seguidas derrapagens do presidente Lula ao tratar publicamente do tema.
Ao persistir na defesa da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, Lula atropela uma série de fatos elementares que teria a obrigação de dominar antes de dar seus palpites. Ora, nem mesmo o Irã reconhece a vitória do candidato fundamentalista.
O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, tentou ungir Ahmadinejad no fim de semana. Mas recuou da manobra anômala e açodada já na segunda, forçado pela reação popular. Abriu uma investigação para apurar suspeitas de fraude, e o resultado do pleito, a rigor, está "sub judice". Mas Lula se sente à vontade para afirmar o que nem Khamenei pode dizer em público.
Por falta de assessoria competente ou teimosia, o presidente brasileiro pôs-se a ridicularizar o maior movimento de contestação popular em 30 anos de república islâmica. Para Lula, trata-se de mero choro de perdedor, disputa entre "vascaínos e flamenguistas". Afinal, "não é a primeira vez que um partido de oposição que perde reclama tanto".
Ficou patético o jogral entre as suas palavras e as de Ahmadinejad, que pouco antes também havia recorrido à alegoria das torcidas de futebol na tentativa de desqualificar os protestos.
É constrangedor ter de repetir o óbvio: para o Brasil, não interessa o nome do presidente do Irã; a relação bilateral é feita de Estado para Estado e se restringe ao campo dos negócios -e ainda assim num contexto em que as transações com o país persa representam só três milésimos do comércio externo brasileiro.
As falas descuidadas do presidente Lula sobre o Irã, para manter a fraseologia clubística, são diplomacia de segunda divisão.


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