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Editoriais
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Segunda divisão
TUDO O que o Brasil disser sobre a crise do Irã -um país
distante, com o qual mantém laços comerciais incipientes
e relação política mínima- terá
peso irrisório no jogo diplomático internacional. Faz-se a constatação com certo alívio, depois
das seguidas derrapagens do presidente Lula ao tratar publicamente do tema.
Ao persistir na defesa da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, Lula atropela uma série de
fatos elementares que teria a
obrigação de dominar antes de
dar seus palpites. Ora, nem mesmo o Irã reconhece a vitória do
candidato fundamentalista.
O líder supremo, aiatolá Ali
Khamenei, tentou ungir Ahmadinejad no fim de semana. Mas
recuou da manobra anômala e
açodada já na segunda, forçado
pela reação popular. Abriu uma
investigação para apurar suspeitas de fraude, e o resultado do
pleito, a rigor, está "sub judice".
Mas Lula se sente à vontade para
afirmar o que nem Khamenei
pode dizer em público.
Por falta de assessoria competente ou teimosia, o presidente
brasileiro pôs-se a ridicularizar o
maior movimento de contestação popular em 30 anos de república islâmica. Para Lula, trata-se
de mero choro de perdedor, disputa entre "vascaínos e flamenguistas". Afinal, "não é a primeira vez que um partido de oposição que perde reclama tanto".
Ficou patético o jogral entre as
suas palavras e as de Ahmadinejad, que pouco antes também havia recorrido à alegoria das torcidas de futebol na tentativa de
desqualificar os protestos.
É constrangedor ter de repetir
o óbvio: para o Brasil, não interessa o nome do presidente do
Irã; a relação bilateral é feita de
Estado para Estado e se restringe
ao campo dos negócios -e ainda
assim num contexto em que as
transações com o país persa representam só três milésimos do
comércio externo brasileiro.
As falas descuidadas do presidente Lula sobre o Irã, para manter a fraseologia clubística, são
diplomacia de segunda divisão.
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