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CLÓVIS ROSSI
Menos, Lula, menos
SÃO PAULO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de vez em
quando ironiza os que ironizavam
seus tropeços com o português.
Lembra que, antes de ser presidente, dizia "menas"; agora, vez por outra, tasca um "sine qua non". Parabéns, presidente, pela evolução.
Mas agora é hora de reaprender a
falar "menas". A ser menos boquirroto, quero dizer. Presidente não é
comentarista de política interna ou
externa para ficar dando palpite em
tudo, inclusive sobre o que não tem
informações.
Refiro-me ao caso das eleições no
Irã. Lula não tem elementos para
avalizar ou condenar os resultados.
Não houve observadores internacionais que pudessem referendar a
vitória do presidente Ahmadinejad
ou gritar "fraude".
Ao falar sobre o que não sabe, o
presidente está sendo leviano e
dando demonstrações seguidas de
desinformação.
Primeiro, disse que só os perdedores protestaram. Falso. Os governos da França e da Alemanha chamaram os embaixadores do Irã em
suas respectivas capitais para pedir
explicações.
Depois, disse que a percentagem
de votos atribuída a Ahmadinejad
(cerca de 60%) é muita para que tenha havido fraude. Bobagem. Ditaduras não tem escrúpulos. Só um
exemplo: o paraguaio Alfredo
Stroessner elegia-se sucessivamente com percentagens próximas de
90% -e os hoje petistas e seus amigos paraguaios gritavam fraude sucessivamente.
Até o Conselho dos Guardiães, a
linha dura da linha dura, viu-se
obrigado a convocar uma reunião
com os candidatos destinada a discutir as acusações de fraude.
Quando o coração do regime hesita, Lula revela-se mais aiatolá do
que os aiatolás. Sem necessidade,
porque, como ninguém sabe se
houve ou não irregularidades, o
mais elementar bom senso sugeriria silêncio a qualquer chefe de governo até desfazer as brumas.
crossi@uol.com.br
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