São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

SIM

Corinthians pode e merece ter novo estádio

CANDIDO MALTA CAMPOS FILHO

Os entendimentos dos proprietários do Morumbi com a Fifa para atendimento dos requisitos de adaptação do estádio para os jogos da Copa em 2014 não chegaram a bom termo, tendo sido, por isso, eliminado dessa competição.
Essa eliminação abre caminho para que a cidade e mesmo o país se engajem em uma campanha para levantar fundos privados para dotar a cidade de São Paulo de um estádio à altura, enquanto requisitos técnicos, de sediar um evento importante dessa Copa.
São Paulo obviamente não pode ficar de fora dessa competição. A contribuição do futebol paulista para o futebol brasileiro é, sem sombra de dúvida, de primeira grandeza. Existem torcedores dos times paulistas por todo o país, como até no estrangeiro.
Há jogadores de São Paulo, capital e Estado, ou nascidos alhures que fizeram em times paulistas sua carreira inicial, intermediária ou final -e às vezes toda ela. Se nos primeiros 50 anos o futebol brasileiro ficou polarizado entre o Rio e São Paulo, e o rádio era o que nos propiciava o acompanhamento em tempo real (saudades do Geraldo José de Almeida), tivemos nos últimos 50 anos a ascensão das demais regiões.
Com a cobertura visual e sonora das televisões, ao vivo, tivemos também uma presença maciça e cada vez mais forte desse espetáculo, que, quando bem jogado, é maravilhoso em nossas vidas. Mesmo quando os nossos jogadores brilham no exterior, até envergando, depois de naturalizados, camisas de outros países, nos orgulhamos deles e os acompanhamos por essa mídia, que não se cansa de inovar na comunicação.
Como pode São Paulo não ter um estádio para proporcionar, especialmente a nós, paulistas, a oportunidade de assistir ao vivo e em cores, em contato direto com os jogadores, essa festa máxima do futebol? Impensável. Porém, compartilho da opinião de que nenhum dinheiro público deve ser usado nessa empreitada, a menos que seja por financiamento ou empréstimo do BNDES, e que a verba retorne aos cofres públicos no devido tempo.
Quem tem hoje essa capacidade de, através de campanha pública, levantar os cerca de R$ 700 milhões que têm sido estimados para a sua edificação? O Corinthians Paulista.
Isso porque esse é um projeto antigo dos corintianos, que não veem no Parque São Jorge um estádio à altura de sua grandeza como time de futebol. Quando fui secretário de Planejamento do prefeito Olavo Setubal, tomamos a decisão de oferecer uma área suficiente em Itaquera, ao lado da estação do metrô, para essa finalidade, em 1978.
Até uma nova linha de metrô de superfície, paralela à existente, usando a faixa de terreno atual, que custa por quilômetro 20% do metrô subterrâneo, poderá eventualmente ser uma solução duradoura para o acesso não apenas ao estádio mas a toda a região, caso a opção seja implementá-lo ali.
Essa decisão significaria rever o Plano Diretor em vigor. Os estádios do Morumbi e do Parque Antarctica, se não estou enganado, encontram-se em área que foi pública. A boa localização urbanística poderá contribuir para uma redução de custos para a oferta de adequada acessibilidade.
A massa dos torcedores corintianos, entre eles eu, com seus característicos entusiasmo e dedicação, fiéis nos bons e maus momentos pelos quais todo clube passa, neste ano do centenário de fundação, especialmente, terá o poder de fogo de conquistar esse estádio para São Paulo a tempo, se todos ajudarem, de sediar, por exemplo, o jogo inaugural da Copa de 2014.

CANDIDO MALTA CAMPOS FILHO, arquiteto e urbanista, é professor da FAU/USP e membro do Conselho de Administração da SP Urbanismo. Foi secretário de Planejamento da Prefeitura de São Paulo (gestão Olavo Setubal).


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