São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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O PAPEL DO MERCOSUL

Depois de turbulências e troca de acusações, Brasil e Argentina conseguiram pacificar a situação criada pela decisão do país vizinho de limitar a importação de eletrodomésticos brasileiros. O caso serviu para novamente realçar os limites e as contradições do Mercosul. No vaivém que tem marcado a estruturação do bloco, a meta de criar uma efetiva área de livre-comércio ainda permanece longínqua.
Os obstáculos que se apresentam dizem respeito, entre outras situações, aos desequilíbrios internos, às instabilidades institucionais e às dificuldades de coordenação entre as diversas economias. Nesse contexto, o Mercosul vai sendo administrado ao sabor de crises e de interesses nem sempre conciliáveis, numa moldura institucional que se tornou extremamente confusa: as exceções parecem predominar sobre as regras, e os mecanismos decisórios estão longe de propiciar um encaminhamento fluente e claro dos conflitos.
Muito do empenho do atual governo brasileiro em relação ao bloco relaciona-se à sua relativa importância geopolítica. O Mercosul oferece ao Brasil a oportunidade de se projetar como uma liderança regional com ambições de conquistar mais espaço no cenário internacional. É, portanto, menos pelos benefícios do comércio entre os países-membros e mais pelas perspectivas que se descortinam nas negociações globais que o Mercosul aparece como uma opção oportuna e defensável.
A partir de hoje, em Bruxelas, o bloco, sob liderança brasileira, poderá dar um grande passo nesse sentido. Mercosul e União Européia sentam-se à mesa de negociações com vistas a ultimar um promissor acordo comercial. Os entendimentos, encarados com otimismo pelas duas partes, terão importante significado, notadamente diante do impasse nas conversações para a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Fechado o compromisso, ele permitiria ao Brasil, já em sua fase inicial, ganhos anuais estimados em US$ 2,5 bilhões apenas em exportações do agronegócio.


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