São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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PASSADO PERDIDO

É boa a notícia de que a Polícia Federal desbaratou um esquema de contrabando de fósseis. Foram apreendidas no Museu de Paleontologia Força da Terra, instituição privada de São Paulo, cerca de 2.000 peças retiradas ilegalmente da chapada do Araripe, no Ceará, algumas delas com idade estimada em 120 milhões de anos. As relíquias seriam vendidas no exterior.
Infelizmente, é pouco provável que o fim da rede com ramificação em São Paulo venha resolver o problema do comércio ilegal de fósseis da chapada de Araripe. Essa região de 9.000 km2 na divisa entre Ceará, Pernambuco e Piauí, que foi uma laguna no Período Cretáceo (o último da era dos dinossauros, entre 144 milhões e 65 milhões de anos atrás), reúne alguns dos mais fabulosos tesouros fossilizados do planeta.
É também um centro de contrabando de relíquias paleontológicas. Elas normalmente são encontradas por moradores da região, que as vendem por valores irrisórios a atravessadores. No exterior, uma peça pode chegar ao preço de US$ 80 mil.
A evasão dos fósseis já custou ao Brasil pelo menos uma importante descoberta científica. Em junho do ano passado, cientistas suecos e alemães deram uma contribuição para a história evolutiva das plantas ao identificar um fóssil brasileiro de 130 milhões de anos contrabandeado de Araripe como uma nova espécie, a Cratonia cotyledon.
O Brasil precisa tomar medidas mais concretas para preservar seu patrimônio paleontológico. Ações como a da PF são necessárias, mas não chegam à raiz do problema. A fiscalização de fósseis está a cargo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), subordinado ao Ministério das Minas e Energia, que mantém dois geólogos para zelar por toda a área da chapada do Araripe. Como a preocupação é com o valor científico dos achados, o ministério mais adequado seria o da Ciência e Tecnologia. É verdade, porém, que, se houvesse uma fiscalização efetiva, a questão de quem a exerce seria um problema menor.


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