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PASSADO PERDIDO
É boa a notícia de que a Polícia
Federal desbaratou um esquema de contrabando de fósseis. Foram apreendidas no Museu de Paleontologia Força da Terra, instituição privada de São Paulo, cerca de
2.000 peças retiradas ilegalmente da
chapada do Araripe, no Ceará, algumas delas com idade estimada em
120 milhões de anos. As relíquias seriam vendidas no exterior.
Infelizmente, é pouco provável que
o fim da rede com ramificação em
São Paulo venha resolver o problema
do comércio ilegal de fósseis da chapada de Araripe. Essa região de 9.000
km2 na divisa entre Ceará, Pernambuco e Piauí, que foi uma laguna no
Período Cretáceo (o último da era
dos dinossauros, entre 144 milhões e
65 milhões de anos atrás), reúne alguns dos mais fabulosos tesouros
fossilizados do planeta.
É também um centro de contrabando de relíquias paleontológicas.
Elas normalmente são encontradas
por moradores da região, que as vendem por valores irrisórios a atravessadores. No exterior, uma peça pode
chegar ao preço de US$ 80 mil.
A evasão dos fósseis já custou ao
Brasil pelo menos uma importante
descoberta científica. Em junho do
ano passado, cientistas suecos e alemães deram uma contribuição para a
história evolutiva das plantas ao
identificar um fóssil brasileiro de 130
milhões de anos contrabandeado de
Araripe como uma nova espécie, a
Cratonia cotyledon.
O Brasil precisa tomar medidas
mais concretas para preservar seu
patrimônio paleontológico. Ações
como a da PF são necessárias, mas
não chegam à raiz do problema. A
fiscalização de fósseis está a cargo do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), subordinado
ao Ministério das Minas e Energia,
que mantém dois geólogos para zelar por toda a área da chapada do
Araripe. Como a preocupação é com
o valor científico dos achados, o ministério mais adequado seria o da
Ciência e Tecnologia. É verdade, porém, que, se houvesse uma fiscalização efetiva, a questão de quem a exerce seria um problema menor.
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