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ELIANE CANTANHÊDE
Fatalidade?
BRASÍLIA - O controle de aproximação de Congonhas autorizou o
pouso, o Airbus-A320 tocou o solo
e... não parou. Tentou arremeter,
cruzou a avenida, bateu no prédio e
explodiu. Tinha muita velocidade
para parar e pouca para decolar.
Por que corria tanto? Por que não
conseguiu parar? Nem as autoridades aeronáuticas têm respostas,
mas acidentes ocorrem por falhas
humanas e de equipamentos. E as
circunstâncias eram desfavoráveis:
chovia, a pista estava escorregadia,
as reformas são recentes, faltam as
ranhuras (riscos para produzir
mais atrito nas rodas).
Pairando sobre o vôo 3054, havia
também o Boeing da Gol e dez meses de crise, greve e prisão de controladores, nevoeiros, trocas de
acusações, panes de rádios, suspeitas quanto aos radares. Um sistema
em xeque. Seus operadores, sob
profundo estresse. Pequenos erros
podem virar grandes tragédias.
E há a falta de comando do governo e a ganância das companhias. Segundo pilotos e comissários, o acidente "não deve e não pode ser visto
como uma fatalidade, e sim como
um resultado do descaso das autoridades competentes, na regulação e
na fiscalização do setor aéreo, e da
corrida das empresas do setor por
redução de custos".
O Comando da Aeronáutica, o
Cenipa (centro que investiga acidentes aeronáuticos), os controladores e a torcida inteira do Pan sabem que Congonhas combina dois
fatores explosivos: é o aeroporto
mais congestionado do país e, ao
mesmo tempo, o mais condenado.
Mas Infraero, Anac e empresas esperaram para ver. Deu no que deu.
A pista pode ou não ter sido determinante nessa tragédia específica com o Airbus, mas a responsabilidade do governo não está aí, no detalhe. Está no fato de ter convivido
todo esse tempo com o perigo, sem
agir, sem prevenir. O acidente e as
duas centenas de morte são dolorosos, terríveis. Mas, infelizmente,
não foram uma surpresa.
elianec@uol.com.br
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