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KENNETH MAXWELL
Esportes e história
EXISTE UM velho debate entre
os historiadores norte-americanos sobre a chamada "teoria Bolton". Em 1932, o professor
Herbert Bolton, então presidente
da American Historical Association, perguntou em discurso à associação se as Américas tinham
uma história em comum.
Bolton era professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e
escreveu muitos estudos sobre a
história da fronteira oeste dos Estados Unidos, do Texas à Califórnia. Ele acreditava que a história
dos Estados Unidos precisava incorporar melhor a posição do país
como parte de um processo continental mais extenso de interação
cultural e geográfica, para o qual o
papel ibérico havia sido importante.
Na prática, o professor Bolton
estava criticando os historiadores
norte-americanos por sua crença
na singularidade histórica dos Estados Unidos e por seu crônico
bairrismo monoglota, e essa não
era uma crítica que eles apreciassem. Poucos historiadores norte-americanos se deixaram convencer pelos argumentos de Bolton.
Para a maioria deles, a América
ibérica representava tudo o que
seu país não era.
Mas existe uma área, o esporte,
em que a resposta à pergunta de
Bolton é um "não" muito claro. E
essa divisão hemisférica está em
destaque nesta semana em que o
Brasil sedia os jogos Pan-Americanos, no Rio, depois de sair vencedor na Copa América, disputada na
Venezuela. A imprensa latino-americana está repleta de artigos
sobre as duas competições. Mas será que os leitores de qualquer grande jornal norte-americano estão
cientes do fato?
No caderno de esportes do "New
York Times" do domingo passado,
por exemplo, a única referência aos
Jogos Pan-Americanos era uma
curta reportagem da agência de notícias Associated Press, publicada
no pé da página 9. O resultado da
Copa América foi relegado à coluna
genérica sobre futebol na página 11,
cujo destaque era a eliminação da
seleção norte-americana sub-20
no campeonato mundial da categoria, em Toronto. E a única reportagem longa publicada sobre o tema
pelo "New York Times", nos dias
que antecederam a abertura do
Pan-Americano, tratava da irrelevância do beisebol, "o passatempo
predileto dos Estados Unidos", no
Brasil.
É estranho constatar que o cubano Fidel Castro e o venezuelano
Hugo Chávez, os líderes regionais
mais notoriamente antiamericanos, sejam também os mais ardorosos torcedores latino-americanos do beisebol, um esporte criado
nos EUA. Eis um caso de História à
procura de uma teoria.
kmaxwell@fas.harvard.edu
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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