São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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KENNETH MAXWELL

Esportes e história

EXISTE UM velho debate entre os historiadores norte-americanos sobre a chamada "teoria Bolton". Em 1932, o professor Herbert Bolton, então presidente da American Historical Association, perguntou em discurso à associação se as Américas tinham uma história em comum. Bolton era professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e escreveu muitos estudos sobre a história da fronteira oeste dos Estados Unidos, do Texas à Califórnia. Ele acreditava que a história dos Estados Unidos precisava incorporar melhor a posição do país como parte de um processo continental mais extenso de interação cultural e geográfica, para o qual o papel ibérico havia sido importante.
Na prática, o professor Bolton estava criticando os historiadores norte-americanos por sua crença na singularidade histórica dos Estados Unidos e por seu crônico bairrismo monoglota, e essa não era uma crítica que eles apreciassem. Poucos historiadores norte-americanos se deixaram convencer pelos argumentos de Bolton. Para a maioria deles, a América ibérica representava tudo o que seu país não era.
Mas existe uma área, o esporte, em que a resposta à pergunta de Bolton é um "não" muito claro. E essa divisão hemisférica está em destaque nesta semana em que o Brasil sedia os jogos Pan-Americanos, no Rio, depois de sair vencedor na Copa América, disputada na Venezuela. A imprensa latino-americana está repleta de artigos sobre as duas competições. Mas será que os leitores de qualquer grande jornal norte-americano estão cientes do fato?
No caderno de esportes do "New York Times" do domingo passado, por exemplo, a única referência aos Jogos Pan-Americanos era uma curta reportagem da agência de notícias Associated Press, publicada no pé da página 9. O resultado da Copa América foi relegado à coluna genérica sobre futebol na página 11, cujo destaque era a eliminação da seleção norte-americana sub-20 no campeonato mundial da categoria, em Toronto. E a única reportagem longa publicada sobre o tema pelo "New York Times", nos dias que antecederam a abertura do Pan-Americano, tratava da irrelevância do beisebol, "o passatempo predileto dos Estados Unidos", no Brasil.
É estranho constatar que o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez, os líderes regionais mais notoriamente antiamericanos, sejam também os mais ardorosos torcedores latino-americanos do beisebol, um esporte criado nos EUA. Eis um caso de História à procura de uma teoria.
kmaxwell@fas.harvard.edu

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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