São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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IGOR GIELOW

O homem oco

BRASÍLIA - Daniel Dantas, como é previsível, está calado. Seu silêncio enerva muita gente. Mas do jeito que as coisas vão, ele há de se vingar, provando afinal de contas que não é ninguém. É um homem oco, cuja importância é apenas um delírio da platéia.
Dantas não foi a versão tropical dos oligarcas, os apparatchiks soviéticos que lucraram na esteira de privatizações mal-reguladas. É fantasia imaginar que ele, no governo Lula, tentou aproximar-se do poder com a ajuda do então primeiro-comissário José Dirceu. Não há nada de estranho na condução da fusão da Oi com a Brasil Telecom, nem com a solução de suas pendências. Seus enviados, como Luiz Eduardo Greenhalgh, apenas são bons amigos do pessoal da cozinha do Planalto.
Dantas é oco. Ele nem sequer é dono do Opportunity. Talvez nem seja rico. Não conta com uma bancada de parlamentares, oposição e situação, pronta a tirar o corpo fora quando a idéia é investigá-lo e mais disponível ainda quando o negócio é lhe prestar alguma ajudinha.
O melhor truque do diabo, diz o velho clichê, é ele nos convencer de que não existe. E a mão amiga da Polícia Federal, que se perdeu numa disputa que enrolou o próprio Lula, deixou tudo mais fácil.
Num inquérito em que a missão recebida por uma repórter por sua chefia vira prova da "encomenda de matérias jornalísticas" por parte de Dantas, a coisa parece simples para um bom advogado. De tudo o que apareceu até aqui, apenas o explícito caso de suborno parece que vai vingar, por assim dizer. Mesmo assim, pode haver elementos para circunscrever a fatura aos bagres já pescados.
Dantas ou é um homem oco, para conceder-lhe o direito da dúvida, ou deve sonhar com aqueles de T.S. Eliot, esperando que seu mundo acabe não com um estrondo, mas com um suspiro. Assim, inexistente, ele pode se reinventar. De novo.

igielow@folhasp.com.br


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