São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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RUY CASTRO

Atalhos oportunistas

RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues dizia que, se todos conhecessem a vida sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém. Outro dia, o cientista político Bolívar Lamounier afirmou algo parecido: que, se fosse possível punir toda a corrupção vigente no país, metade da população teria de ir para a cadeia. E foi ainda mais duro no diagnóstico: "O Brasil é essencialmente corrupto".
Para Lamounier, a corrupção -que não dorme, é solerte- tende a aparecer mais em surtos de crescimento econômico. Faz sentido: quanto mais dinheiro em jogo, mais se rouba ou se tenta roubar. Por sorte, não estamos sozinhos. Para ele, Rússia, Japão, Coréia do Sul, China, França e Estados Unidos nos têm feito excelente companhia no pântano.
Uma causa da tendência brasileira a esses, digamos, atalhos oportunistas seria nossa visão, herdada dos anos 50, de que o desenvolvimento produziria uma população "melhor", mais bem educada e com tantas oportunidades que não comportaria o crime. É verdade, achava-se mesmo isto. No dia em que a maioria dos brasileiros se vestisse na Ducal, tivesse um Fusca na garagem e conta no Banco Nacional, o Brasil seria o paraíso.
Bem, o desenvolvimento chegou, a Ducal, o Fusca e o Nacional já eram, e a corrupção não diminuiu. Ao contrário, aumentou. Aquela visão otimista e evolucionista, segundo Lamounier, estava errada. O problema é que ainda acreditamos em Jean-Jacques Rousseau, para quem as pessoas são boas, e é a sociedade que as corrompe.
Melhor seria, diz ele, se fizéssemos como os americanos e acreditássemos em Thomas Hobbes. Para Hobbes, as pessoas são más, e é preciso ficar de olho nelas. Mas, num país em que a PM mata inocentes, a Justiça solta criminosos e os piores exemplos vêm de cima, quem vai ficar de olho em quem?


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