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Veloz e custoso
Trem de Alta Velocidade tem aspectos positivos, mas irá consumir recursos vultosos que poderiam ser aplicados de maneira mais adequada
Apesar de toda a pompa, a divulgação do edital de licitação para a construção do Trem de Alta
Velocidade entre São Paulo e Rio
foi recebida com ceticismo fora do
governo. E com boas razões.
A primeira delas é o custo. O
projeto do TAV começou com uma
estimativa de R$ 20 bilhões em
2008, mas o valor passou para
R$ 33,1 bilhões nos estudos de viabilidade aprovados pelo Tribunal
de Contas da União. E nada garante que não subirá novamente.
Tendo em vista que pouco mais de
4% dos estudos geológicos estariam prontos, não é factível fixar
com precisão o custo final do projeto. Avaliações do setor privado
dão conta que alterações de trajeto e complicadores ambientais podem elevá-lo para R$ 50 bilhões.
São recursos vultosos que poderiam ser direcionado para outras
prioridades logísticas, que beneficiariam o país em termos de eficiência e competitividade.
Quanto custaria a interligação
ampla por ferrovia do Centro-Oeste com os principais portos do
país? Se o século 21 parece asiático, não seria estrategicamente
correto realizar o antigo sonho de
uma saída para o oceano Pacífico,
que baratearia nossas exportações? Quanto ao transporte de
passageiros, por que não adotar linhas convencionais modernas?
Por mais que o transporte ferroviário não raro demande a presença do Estado, os subsídios, no caso, são muito altos. Será criada
uma nova estatal, a Empresa de
Transporte Ferroviário de Alta Velocidade. A Etav participará com
um terço do capital de R$ 10 bilhões da companhia que será responsável por construir e operar o
TAV. O restante virá do setor privado. Até aí, não há problema.
Mas o envolvimento do governo
vai além. Serão R$ 19,9 bilhões em
financiamento do BNDES (60% do
valor do projeto) numa operação
que representará, em valores
atuais, um subsídio de 3% ao ano
no valor do empréstimo. Em dez
anos, seriam R$ 6 bilhões bancados pelo contribuinte.
Segundo o governo, eventuais
aumentos de custo por mudanças
no projeto serão absorvidos pelo
consórcio vencedor, afetando a taxa de retorno. Ora, a julgar pela
experiência do leilão de Belo Monte (que saiu com 80% de financiamento do BNDES), seria muito otimismo crer que o governo não aumentará o valor dos subsídios, caso precise manter a atratividade
para o setor privado.
Os defensores do TAV argumentam se tratar de uma obra que
gerará milhares de empregos e
permitirá a aquisição de tecnologia. De fato são aspectos positivos,
mas, diante das precariedades nacionais, não parecem por ora suficientes para justificar a obra.
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