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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Quem te viu, quem te vê

SÃO PAULO - O deputado Luciano Zica (PT-SP), ouvidor da Câmara dos Deputados, explica que sua proposta a respeito dos CNEs (Cargos de Natureza Especial da Casa) não visa, ao contrário do que foi dito neste espaço, a apenas legalizar a indecência.
Zica está propondo que os CNEs só trabalhem na Câmara, e não nos Estados, como o faz hoje uma suculenta fatia deles.
Ajuda-memória ao leitor: os CNEs são quase 2.000, todos contratados sem concurso, consomem R$ 97 milhões/ano de dinheiro público, e na prática servem apenas para ajudar deputados a fazer trabalho proselitista nas suas bases.
A Folha, em sucessivas reportagens, vem mostrando que esse pessoal nem sabe direito qual é o seu trabalho, mas sabe, perfeitamente, que serve ao deputado x ou y, não à Câmara.
A iniciativa de Zica é uma evidência adicional de que o esquema é uma grande maracutaia. Temo, no entanto, que o ouvidor esteja perdendo tempo com sua tentativa de moralizar a coisa.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (igualmente do PT e de SP), somou à indecência o escárnio, ao defender os CNEs na entrevista que esta Folha publicou no domingo.
Seus argumentos soam, muitas vezes, semelhantes aos que Paulo Salim Maluf emprega quando se defende das suspeitas que, uma ou outra vez, aparecem contra ele.
O caso dos CNEs é triste por, pelo menos, dois aspectos:
1 - Revela como um jovem político, promissor enquanto está na oposição, vira farinha do mesmo saco ao tomar posse de um naco de poder.
2 - Revela como era vazia a gritaria que o PT fazia, na oposição, como se tivesse o monopólio da ética nos negócios públicos. Uma vez no poder, se assanha para punir deputados cujo único crime é defender antigas bandeiras do partido, mas não emite um pio, um piozinho que seja, a respeito do desperdício de recursos públicos patrocinado por um dos seus.


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