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CLÓVIS ROSSI
Quem te viu, quem te vê
SÃO PAULO - O deputado Luciano
Zica (PT-SP), ouvidor da Câmara
dos Deputados, explica que sua proposta a respeito dos CNEs (Cargos de
Natureza Especial da Casa) não visa,
ao contrário do que foi dito neste espaço, a apenas legalizar a indecência.
Zica está propondo que os CNEs só
trabalhem na Câmara, e não nos Estados, como o faz hoje uma suculenta
fatia deles.
Ajuda-memória ao leitor: os CNEs
são quase 2.000, todos contratados
sem concurso, consomem R$ 97 milhões/ano de dinheiro público, e na
prática servem apenas para ajudar
deputados a fazer trabalho proselitista nas suas bases.
A Folha, em sucessivas reportagens,
vem mostrando que esse pessoal nem
sabe direito qual é o seu trabalho,
mas sabe, perfeitamente, que serve ao
deputado x ou y, não à Câmara.
A iniciativa de Zica é uma evidência adicional de que o esquema é
uma grande maracutaia. Temo, no
entanto, que o ouvidor esteja perdendo tempo com sua tentativa de moralizar a coisa.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (igualmente do PT e de SP),
somou à indecência o escárnio, ao
defender os CNEs na entrevista que
esta Folha publicou no domingo.
Seus argumentos soam, muitas vezes, semelhantes aos que Paulo Salim
Maluf emprega quando se defende
das suspeitas que, uma ou outra vez,
aparecem contra ele.
O caso dos CNEs é triste por, pelo
menos, dois aspectos:
1 - Revela como um jovem político,
promissor enquanto está na oposição, vira farinha do mesmo saco ao
tomar posse de um naco de poder.
2 - Revela como era vazia a gritaria
que o PT fazia, na oposição, como se
tivesse o monopólio da ética nos negócios públicos. Uma vez no poder, se
assanha para punir deputados cujo
único crime é defender antigas bandeiras do partido, mas não emite um
pio, um piozinho que seja, a respeito
do desperdício de recursos públicos
patrocinado por um dos seus.
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