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ELIANE CANTANHÊDE
Apareceu a margarida
BRASÍLIA - Lula deu quatro entrevistas exclusivas desde a eleição do ano
passado: três para a TV Globo, uma
para a revista "Veja". Se fosse FHC, o
que os petistas não diriam?!
Até aqui Lula falou pelos cotovelos
em solenidades e viagens. Lê discursos escritos sem a menor graça e faz
improvisos cheios de graça. Tanta
que o "Casseta e Planeta", da mesma
Globo, dedica-lhe um quadro sobre
as "metáforas do presidente".
Agora, Lula abre mais uma etapa,
com essas entrevistas exclusivas e
uma conversa com jornalistas de política, amanhã, no Planalto. É bom.
De duas, uma: ou o presidente quer
aproveitar a onda da aprovação da
reforma da Previdência pela Câmara
em primeiro turno, com cobrança de
inativo e tudo, ou ele está sendo movido por pesquisas qualitativas.
Aquelas que, mais do que números,
expõem conteúdos. Indicam o que as
pessoas estão ou não gostando.
O fato é que notinhas daqui e dali e
a própria edição da "Veja" informam: Duda lá! Ou seja, Duda anda
pelos palácios, e não só para tomar
cafezinho nem bater papo na ante-sala do presidente. O supermarqueteiro está lá lendo as quális (apelido
das pesquisas qualitativas), detectando recados de sua excelência, o povo,
e transportando o que apreendeu para o presidente. O que Duda vê hoje,
Lula responde amanhã.
Das entrevistas recentes, fica um
Lula excessivamente preocupado em
mostrar como está feliz, adorando a
rotina e os prazeres da Presidência.
Ao contrário das versões maliciosas
de que ele detesta tudo isso.
Fica ainda um Lula chefe, administrativo, que interrompe a fala para
buscar a pasta tal, cobrar o ministro
qual. Ao contrário da crítica de que
nunca administrou nada, não tem
experiência nem jeito para a coisa.
Política é arte. Teatro, por exemplo.
Não se pode culpar o presidente por
ser político, fazer uma arte ou outra e
desempenhar o personagem que ele
tem que desempenhar: o das quális.
Isto aqui, portanto, é apenas uma
implicância de jornalista. Ou uma
advertência modesta: não ligue para
o conteúdo, analise a forma.
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