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MAIS UM CASUÍSMO
Ao que tudo indica, o governo
federal está disposto a colaborar com a proposta de emenda constitucional (PEC) que poderá permitir
a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados -José Sarney (PMBD-AP) e João Paulo
Cunha (PT-SP), respectivamente.
Um texto substitutivo da proposta foi
votado e derrotado em primeiro turno. A questão foi temporariamente
excluída da pauta.
Agora o governo empenha-se em
ressuscitar a PEC original e em fomentar condições mais favoráveis à
sua aprovação. Na prática, isso significa que o Planalto se mobiliza para
costurar um acordo que neutralize a
oposição de Renan Calheiros, líder
do PMDB no Senado, à emenda e
"pacifique" o partido aliado.
Embora o senador negue, há rumores de que a tentativa de resolver o
impasse passaria pelo clássico expediente da barganha de cargos. O peemedebista receberia a oferta de um
ministério em troca de seu apoio.
É preciso ponderar que, considerada em si mesma, a tese da reeleição é
até razoável. A seu favor é possível argumentar que o exercício de cargos
do Poder Executivo e do Legislativo
devem ser regidos pelos mesmos
princípios. Desse ponto de vista, não
haveria contra-senso em defender a
reeleição para as presidências do Senado e da Câmara, uma vez que ela já
é admitida para cargos do Executivo.
No entanto os esforços em favor da
PEC da reeleição traem as intenções
continuístas de seus defensores. Se
aprovado, o dispositivo deverá passar a valer já para os atuais presidentes da Câmara e do Senado, anulando as normas vigentes quando os
mesmos foram eleitos, o que lhes
permitiria pleitear um segundo mandato consecutivo.
A aprovar a reeleição, seria de esperar que ela começasse a vigorar para
os próximos titulares dos cargos. Infelizmente, não é o que se está urdindo. Os sinais indicam claramente
que, respaldados pelo governo federal, setores da Câmara e do Senado
articulam mais um casuísmo.
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