São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A FUNÇÃO DOS HOSPITAIS

É difícil dizer se o plano da Santa Casa de São Paulo de restringir o atendimento a casos mais simples, concentrando-se em situações de maior complexidade, alcançará bons resultados. Não há dúvida, porém, de que o sistema de saúde se ressente de profundas transformações, entre elas o uso de hospitais de ensino apenas no atendimento de casos mais complexos.
Nesse sentido, é oportuna a iniciativa do Ministério da Saúde de lançar o Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino do SUS (Sistema Único de Saúde), pelo qual serão celebrados contratos que alteram a forma de remuneração dessas unidades com vistas a promover as mudanças necessárias. A Santa Casa, por exemplo, vai deixar de receber por procedimentos realizados, passando a ganhar uma quantia fixa, que poderá ser maior se determinadas metas forem cumpridas. Uma delas é a de reduzir a demanda espontânea pelos serviços do hospital, que deve atender primordialmente pacientes encaminhados por prontos-socorros e unidades de atendimento básico da prefeitura.
É claro que esse sistema enfrentará problemas. Entre as dificuldades está a desconfiança que a população nutre pelos postos de saúde. Ainda que eles existissem em número suficiente e fossem racionalmente distribuídos pela cidade -o que está longe de ser verdade-, é muito provável que a procura espontânea pelos centros de referência continuasse.
O problema desse hábito é que ele costuma resultar num excesso de demanda pelos grandes hospitais. A espera nas filas para atendimento na Santa Casa ou no Hospital das Clínicas de São Paulo pode chegar a vários meses, o que, obviamente, não é bom para o hospital e, principalmente, para o paciente.
Quando se onera a rede de hospitais de ensino com milhares de casos mais simples, não apenas cai a qualidade dos atendimentos de maior e de menor complexidade como recursos valiosos são mal utilizados.


Texto Anterior: Editoriais: MAIS UM CASUÍSMO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Venezuela, sonho e pesadelo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.