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CARLOS HEITOR CONY
Petrônio árbitro
RIO DE JANEIRO - Uma amiga comentou a autofagia da imprensa como instituição, como ofício e como
serviço público. Acho que ela tem razão, sobretudo nos tempos que correm, em que a imprensa virou notícia
de si mesma.
A verdade é que não faltam assuntos, em todos os setores da lida humana, na ciência, nas artes, nos esportes,
na economia, na política e, dando de
barato, nas fofocas da vida social.
Apesar de tanta e tamanha oferta,
a imprensa passou a se considerar assunto prioritário, lavando a roupa
suja em público, o que poderia ser
saudável e até necessário não fosse o
entusiasmo com que ela a si mesmo
se promove, colocando-se como um
quarto poder quando não passa de
uma força, limitada pelos objetivos
que pretende alcançar.
E seus objetivos nem sempre são
respeitáveis. Tanto na informação
como na opinião, as duas pernas naturais em que ela se movimenta, nota-se a concorrência que deixou de
ser empresarial e passou a ser pessoal.
Os anos de autoritarismo provocaram uma reação despropositada na
briga pelo furo, pela denúncia, pela
desqualificação dos concorrentes. Os
mecanismos legais que punem os excessos e erros por ela cometidos são
lentos, de difícil apuração e de duvidosa eficácia.
Na semana passada, uma revista
publicou por ordem judicial um desmentido de Paulo Maluf. E a mesma
revista foi denunciada como praticante do mau jornalismo no caso do
ex-deputado Ibsen Pinheiro, massacrado por informações incorretas que
não foram corrigidas para não prejudicar o lançamento de um número
que já estava rodado.
Não se trata de uma simples rixa
entre veículos concorrentes. É a arrogância do "Petronius arbiter", o árbitro entre o bem e o mal que cada órgão e, muitas vezes, cada profissional
se julga no direito de invocar.
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