São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Petrônio árbitro

RIO DE JANEIRO - Uma amiga comentou a autofagia da imprensa como instituição, como ofício e como serviço público. Acho que ela tem razão, sobretudo nos tempos que correm, em que a imprensa virou notícia de si mesma.
A verdade é que não faltam assuntos, em todos os setores da lida humana, na ciência, nas artes, nos esportes, na economia, na política e, dando de barato, nas fofocas da vida social.
Apesar de tanta e tamanha oferta, a imprensa passou a se considerar assunto prioritário, lavando a roupa suja em público, o que poderia ser saudável e até necessário não fosse o entusiasmo com que ela a si mesmo se promove, colocando-se como um quarto poder quando não passa de uma força, limitada pelos objetivos que pretende alcançar.
E seus objetivos nem sempre são respeitáveis. Tanto na informação como na opinião, as duas pernas naturais em que ela se movimenta, nota-se a concorrência que deixou de ser empresarial e passou a ser pessoal. Os anos de autoritarismo provocaram uma reação despropositada na briga pelo furo, pela denúncia, pela desqualificação dos concorrentes. Os mecanismos legais que punem os excessos e erros por ela cometidos são lentos, de difícil apuração e de duvidosa eficácia.
Na semana passada, uma revista publicou por ordem judicial um desmentido de Paulo Maluf. E a mesma revista foi denunciada como praticante do mau jornalismo no caso do ex-deputado Ibsen Pinheiro, massacrado por informações incorretas que não foram corrigidas para não prejudicar o lançamento de um número que já estava rodado.
Não se trata de uma simples rixa entre veículos concorrentes. É a arrogância do "Petronius arbiter", o árbitro entre o bem e o mal que cada órgão e, muitas vezes, cada profissional se julga no direito de invocar.


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