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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Ferrovias na contramão!
HÁ MAIS de cem anos, o barão de Mauá lutou pela
construção de estradas de
ferro e de sistemas de navegação
fluvial por saber que, em um país
continental como o nosso, o transporte de carga teria de contar com
uma solução barata e segura. Ele
bancou 40% do custo da primeira
ferrovia, construída em Petrópolis,
em 1854, e, em associação com os
ingleses, iniciou a estrada Recife-São Francisco, a dom Pedro 2º (depois Central do Brasil) e a São Paulo Railway, de Santos a Jundiaí.
Chegamos ao início do século 20
com cerca de 30 mil quilômetros
de ferrovias -o que era nada para a
dimensão e necessidades do Brasil.
Em 1944, eram 35 mil quilômetros,
que continuou sendo muito pouco.
Pois bem, no relatório da Agencia Nacional de Transporte Terrestre de 2006, li que, depois de 150
anos, nossa malha ferroviária caiu
para 29 mil quilômetros e, em uma
reportagem do jornal "Valor" desta
semana, verifico que descemos para 28 mil quilômetros ("Infra-estrutura: custo dificulta ampliação
das ferrovias", 13/8/2007).
Andamos para trás enquanto o
mundo caminhou para a frente. Na
Europa, as malhas ferroviárias se
expandiram extraordinariamente,
incluindo trens de alta velocidade
(mais de 300 km/h) que servem
para o transporte de passageiros
entre as grandes cidades.
Não tem cabimento continuarmos com 28 mil quilômetros de estradas de ferro e movimentar cargas basicamente por transporte rodoviário, que é caro, poluente e exigente de um tipo de manutenção
que o país não agüenta.
Além de serem precárias, as ferrovias do Brasil são irrisórias. O
minúsculo Japão tem 23 mil quilômetros de estradas de ferro de boa
qualidade. A Argentina tem 34 mil
quilômetros; a Austrália, 41 mil; a
Alemanha, 45 mil; a Índia, 63 mil; o
Canadá, 64 mil; a China, 71 mil; a
Rússia, 87 mil, e os Estados Unidos,
quase 200 mil quilômetros.
É verdade que os investimentos
são altos. Mas, se o governo não
tem recursos, que se busque a iniciativa privada, mediante concessões de longo prazo. Muitas empresas estrangeiras já manifestaram o seu interesse. Por que não
partir para parcerias, inclusive para interligar os três aeroportos de
São Paulo (Congonhas, Guarulhos
e Viracopos)?
O retorno desse investimento
pode ser pequeno quando se leva
em conta apenas a receita do transporte, mas é enorme quando se
considera a geração de empregos e
de tributos, assim como a redução
da poluição e dos acidentes e a ativação da economia, pois, afinal, os
dormentes, as locomotivas, os vagões, a eletrificação, enfim, tudo é
nacional. Vamos lá, Brasil, mãos à
obra!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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