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TENDÊNCIAS/DEBATES
PAULO RENATO SOUZA
Leviandades sustentadas
É necessário reiterar que o programa "Multiplicando Saber" não faz parte das políticas que a Secretaria da Educação vem desenvolvendo
Artigo publicado nesta Folha no
último dia 16 ("Insustentável leveza") contém um duro ataque, quase
pessoal, à minha atuação na Secretaria de Educação de São Paulo, recheado de adjetivos e citações fora
de contexto. Fatos e evidências são
ausentes.
O artigo parte de desinformação
ou propositada tergiversação, muito no estilo do que vem se tornando
usual no atual debate eleitoral na
boca de alguns candidatos.
É necessário reiterar que o programa "Multiplicando Saber" não
faz parte das políticas que a Secretaria da Educação vem desenvolvendo na atual administração, como, aliás, ficou claro desde o primeiro "release" de imprensa, divulgado há três semanas.
Trata-se de experiência-piloto
para testar no Brasil um sistema de
tutoria em matemática pelo qual
bons alunos do ensino médio ajudam seus colegas do fundamental
que mostram dificuldades nessa
disciplina.
Experiências semelhantes foram
realizadas nos Estados Unidos, em
alguns países europeus, na Índia,
no Quênia, na Colômbia e no Chile,
e o projeto foi proposto por pesquisadores da USP, com o apoio de um
banco multilateral e de algumas
fundações privadas que o custeiam. Pagar-se-á uma bolsa aos tutores e se dará um incentivo à participação dos pupilos, dado que ela
não é obrigatória.
Este último aspecto secundário
no conjunto do programa ganhou
centralidade nas matérias jornalísticas, a começar por reportagem e
editorial desta prestigiosa Folha.
A polêmica ganhou espaço na
mídia e entre especialistas, centrada justamente nesse aspecto secundário e alimentada pelo clima eleitoral e pelo oportunismo de alguns
candidatos. Nesse ambiente, o próprio resultado científico desse projeto-piloto na avaliação de seu impacto na aprendizagem dos alunos
passou a ficar comprometido.
Diante do fato, tomei a decisão
de estender seu prazo de execução
por alguns meses, até o primeiro semestre de 2011. Nesse período, espero que a polêmica se esclareça e
que possamos chegar a um consenso mínimo entre os especialistas em
torno da validade de experimentar
novas alternativas, que venham a
contribuir para a melhoria da
aprendizagem e dos métodos para
conseguir a adesão de um número
significativo de alunos.
O sistema educacional de São
Paulo é o maior e melhor do país,
segundo as avaliações e informações do MEC. Apesar disso, estamos ainda distantes do ideal e continuamos trabalhando para melhorar a qualidade da educação pública.
Esse esforço de São Paulo tem
merecido o reconhecimento das entidades internacionais mais respeitadas na área.
Nosso Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) nem de longe sofreu a desmoralização que infelizmente atingiu outros sistemas de
avaliação, como o Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), tragado pelo açodamento na tentativa de
utilização político-eleitoral de um
importante instrumento de aperfeiçoamento de nossa educação.
Ali, sim, se jogou com a expectativa e o futuro de milhões de jovens.
Não temos receio de revelar nossos
grandes avanços, como também as
áreas e níveis educacionais em que
novas alternativas precisam ser testadas. Aceitamos o desafio de melhorar o desempenho de nossos jovens em matemática, em especial
no ensino médio. Não abandonamos programas pela metade.
Em relação ao encontro do governador Serra com a cantora Madonna e à proposta que ela nos fez,
foi tomada como tal e assim está
sendo analisada. A aplicação de
"princípios cabalísticos" na rede
pública é apenas fruto da mente
fantasiosa e politicamente tendenciosa da autora.
PAULO RENATO SOUZA, economista, deputado
federal licenciado (PSDB-SP), é secretário da
Educação do Estado de São Paulo. Foi ministro da
Educação (governo FHC), reitor da Unicamp (1986 a
1990) e secretário da Educação do Estado de São
Paulo (governo Montoro).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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