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MULHERES NO BISTURI
O Brasil é apontado como um dos
países com maior taxa de partos cesarianos no mundo. Dados oficiais
apontam que só nos últimos dois
anos 32% dos nascimentos se deram
por meio de cirurgia. Isso contraria
as recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS), que considera a cesariana tolerável em até 15%
dos partos, mas sustenta que acima
dos 7% seus inconvenientes já são
maiores que seus benefícios.
Entre os países desenvolvidos, os
EUA são os recordistas em cesáreas
-em torno de 20%; no Japão e nos
países escandinavos, elas não ultrapassam o índice ideal de 7%; na Europa, estão na faixa dos 15%.
Se a situação brasileira discrepa negativamente do que seria aceitável,
em São Paulo o quadro é ainda pior.
Pesquisa divulgada agora pela Fundação Seade revela que em 96, de cada 100 partos, 52 foram cesáreas. Um
procedimento que deveria estar restrito aos partos de risco passou a ser
regra no Estado.
Os especialistas são unânimes em
apontar as desvantagens da cirurgia.
Ela aumenta os riscos de hemorragias, inflamações e danos no sistema
urinário e digestivo, além de comumente causar dificuldades na amamentação e em outras gestações.
Há causas identificáveis para o número abusivo de cesarianas. Na população atendida por hospitais privados parece haver um acordo de conveniência entre parturientes e médicos, que recorrem à cesárea em troca
de uma suposta segurança e maior
comodidade. De 91 a 96, entre as
paulistas com mais de 11 anos de escola, 84% fizeram cesáreas.
Entre os mais pobres, a cirurgia foi
favorecida por mudanças no sistema
de saúde na década de 70, quando os
hospitais começaram a receber mais
dinheiro do SUS pelas cesáreas.
Além disso, a rede pública de saúde
não paga a anestesia do parto natural
e muitas mulheres aproveitam a ocasião para fazer laqueadura grátis.
A "cultura da cesariana" que se
instituiu no país tem raízes no comportamento dos médicos e nas distorções do sistema de saúde. É preciso combatê-la em ambas as frentes.
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