São Paulo, sexta, 19 de setembro de 1997.



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MULHERES NO BISTURI

O Brasil é apontado como um dos países com maior taxa de partos cesarianos no mundo. Dados oficiais apontam que só nos últimos dois anos 32% dos nascimentos se deram por meio de cirurgia. Isso contraria as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera a cesariana tolerável em até 15% dos partos, mas sustenta que acima dos 7% seus inconvenientes já são maiores que seus benefícios.
Entre os países desenvolvidos, os EUA são os recordistas em cesáreas -em torno de 20%; no Japão e nos países escandinavos, elas não ultrapassam o índice ideal de 7%; na Europa, estão na faixa dos 15%.
Se a situação brasileira discrepa negativamente do que seria aceitável, em São Paulo o quadro é ainda pior. Pesquisa divulgada agora pela Fundação Seade revela que em 96, de cada 100 partos, 52 foram cesáreas. Um procedimento que deveria estar restrito aos partos de risco passou a ser regra no Estado.
Os especialistas são unânimes em apontar as desvantagens da cirurgia. Ela aumenta os riscos de hemorragias, inflamações e danos no sistema urinário e digestivo, além de comumente causar dificuldades na amamentação e em outras gestações.
Há causas identificáveis para o número abusivo de cesarianas. Na população atendida por hospitais privados parece haver um acordo de conveniência entre parturientes e médicos, que recorrem à cesárea em troca de uma suposta segurança e maior comodidade. De 91 a 96, entre as paulistas com mais de 11 anos de escola, 84% fizeram cesáreas.
Entre os mais pobres, a cirurgia foi favorecida por mudanças no sistema de saúde na década de 70, quando os hospitais começaram a receber mais dinheiro do SUS pelas cesáreas. Além disso, a rede pública de saúde não paga a anestesia do parto natural e muitas mulheres aproveitam a ocasião para fazer laqueadura grátis.
A "cultura da cesariana" que se instituiu no país tem raízes no comportamento dos médicos e nas distorções do sistema de saúde. É preciso combatê-la em ambas as frentes.




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