São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O abominável Freud

SÃO PAULO - Fora Gregório Fortunato, o "Anjo Negro" que arruinou o governo Getúlio Vargas, há mais de 50 anos, não creio que se tenha visto algum suspeito de irregularidade que estivesse mais próximo fisicamente do presidente de turno da República do que Freud Godoy, apontado como o homem que mandou comprar o dossiê.
Freud, que não se perca pelo nome, era assessor especial da secretaria particular de Luiz Inácio Lula da Silva. O "Estadão" publicou ontem foto dele ao lado de Lula, nas vésperas da posse, ambos de bermuda e camiseta, caminhando pelos jardins da Granja do Torto, cena de intimidade rara entre um subalterno e o futuro chefe de governo Quer dizer que Lula sabia de tudo o que Freud Godoy fazia, inclusive o ato que o próprio presidente classificou, no fim de semana, de "abominável"? Não necessariamente.
Mas quer dizer inescapavelmente que o caldo de cultura no entorno mais próximo e mais íntimo do presidente da República no mínimo, no mínimo, não desestimula atos "abomináveis". Pior: se tivesse sido antes do "mensalão" e se se aceitar as juras de Lula de que não sabia de nada, ainda haveria uma desculpa, esfarrapada, mas desculpa.
Agora não. Depois do "mensalão", para não falar de tantos outros episódios envolvendo figuras graduadas do governo Lula, o chefe teria que ter deixado claríssimo que não tolera atos "abomináveis", que ninguém deveria nem mesmo pensar em se aproximar de delinqüentes e assim por diante.
Ao afastar acusados, ao mesmo tempo em que passava a mão pela cabeça de todos eles, publicamente, Luiz Inácio Lula da Silva criou o ambiente propício para que prosperassem atos "abomináveis" praticados por gente que tem assento no próprio andar em que trabalha o presidente da República.


crossi@uol.com.br

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