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CLÓVIS ROSSI
O abominável Freud
SÃO PAULO - Fora Gregório Fortunato, o "Anjo Negro" que arruinou o governo Getúlio Vargas, há
mais de 50 anos, não creio que se tenha visto algum suspeito de irregularidade que estivesse mais próximo fisicamente do presidente de
turno da República do que Freud
Godoy, apontado como o homem
que mandou comprar o dossiê.
Freud, que não se perca pelo nome, era assessor especial da secretaria particular de Luiz Inácio Lula
da Silva. O "Estadão" publicou ontem foto dele ao lado de Lula, nas
vésperas da posse, ambos de bermuda e camiseta, caminhando pelos jardins da Granja do Torto, cena
de intimidade rara entre um subalterno e o futuro chefe de governo
Quer dizer que Lula sabia de tudo
o que Freud Godoy fazia, inclusive o
ato que o próprio presidente classificou, no fim de semana, de "abominável"? Não necessariamente.
Mas quer dizer inescapavelmente que o caldo de cultura no entorno
mais próximo e mais íntimo do presidente da República no mínimo,
no mínimo, não desestimula atos
"abomináveis".
Pior: se tivesse sido antes do
"mensalão" e se se aceitar as juras
de Lula de que não sabia de nada,
ainda haveria uma desculpa, esfarrapada, mas desculpa.
Agora não. Depois do "mensalão", para não falar de tantos outros
episódios envolvendo figuras graduadas do governo Lula, o chefe teria que ter deixado claríssimo que
não tolera atos "abomináveis", que
ninguém deveria nem mesmo pensar em se aproximar de delinqüentes e assim por diante.
Ao afastar acusados, ao mesmo
tempo em que passava a mão pela
cabeça de todos eles, publicamente,
Luiz Inácio Lula da Silva criou o
ambiente propício para que prosperassem atos "abomináveis" praticados por gente que tem assento no
próprio andar em que trabalha o
presidente da República.
crossi@uol.com.br
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