|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Valor do trabalho
GOSTEMOS OU não, há algumas idéias que foram sendo
internalizadas pelos indivíduos, que, por sua própria ação, se
transformaram lentamente em
"cidadãos", quer dizer, exigentes
de liberdade, de justiça e de um nível razoável de igualdade. A organização social foi incorporando instituições que, dinamicamente, levaram à construção daqueles valores,
mas que, também, proviam a subsistência dos cidadãos. A maximização do bem-estar geral exige não
apenas o exercício da liberdade, a
sensação de segurança e justiça, o
sentimento de inclusão produzido
pela relativa igualdade mas também, e significativamente, a eficiência da estrutura produtiva.
O processo histórico seletivo,
quase biológico, que transformou o
indivíduo em cidadão mostrou que
o mais eficiente sistema produtivo
compatível com a liberdade individual é a economia de mercado, o
que se chama de "capitalismo".
Nela, movendo-se por sinais
(preços) e incentivos adequados,
os cidadãos acomodam a sua atividade. A maior virtude da "economia de mercado" é que ela não foi
inventada. Foi "descoberta" na atividade prática exigida pela necessidade de sobrevivência, muito antes
de o indivíduo transformar-se em
"cidadão". Está na origem dessa
construção o papel que se espera
do Estado constitucional nos dias
de hoje:
1º) que com tributação leve a utilize de forma eficiente para cumprir as tarefas que só ele pode fazer:
a) proporcionar bens públicos fundamentais, como segurança interna e externa, justiça razoável e estabilidade do valor da moeda e b)
construir a infra-estrutura quando
a taxa de retorno social do investimento é incapaz de atrair o setor
privado, e 2º) que dê ênfase na sua
ação às necessidades dos mais pobres, provendo-lhes recursos temporários para uma subsistência
digna, simultaneamente com a
criação de mecanismos que lhes dê
a oportunidade de se libertarem
desse constrangimento. O imperativo ético da ação do Estado começa na "assistência", mas termina na
"libertação".
Devemos ao velho Karl duas
idéias fundamentais que ajudam a
entender o nosso problema: 1ª) que
o "capitalismo" está longe de ser
uma organização natural, como supõem alguns de nossos economistas. E 2ª) que o trabalho não é apenas uma atividade para atender às
necessidades do homem, mas a sua
primeira necessidade, a "condição
natural de sua vida"! É isso que inspira o pensamento keynesiano: todos têm o direito (não o "favor") de
exercer um trabalho decente, o
que, infelizmente, a "mão invisível" não pode garantir.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Sacos indestrutíveis Próximo Texto: Frases
Índice
|