São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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RUY CASTRO

Sacos indestrutíveis

RIO DE JANEIRO - A humanidade deve muito a uma dona-de-casa americana chamada Margaret Knight. Em 1869, ela resolveu um problema que a aborrecia sempre que voltava do mercadinho. Ao descansar o saco de ovos em cima da pia, eles carambolavam uns sobre os outros, quebravam-se e faziam uma lambança sobre o tampo de mármore. E tudo porque, segundo um conceito categórico e eterno, os sacos vazios não paravam em pé.
Margaret decidiu criar um saco que, mesmo vazio, parasse em pé. Com isso, não só derrotaria aquele fatalismo filosófico como seus ovos deixariam de carambolar. Assim, com a simples inserção de uma lâmina de cartolina no fundo do saco, inventou o saco de fundo chato. O saco ficou em pé, os ovos se acomodaram com perfeição e, graças a Margaret, as donas-de-casa levaram os cem anos seguintes felizes da vida com seus sacos de papel pardo, que passaram a servir para transportar tudo, inclusive ovos.
Até que, a partir de 1970, os sacos plásticos substituíram os de papel e, além de não parar em pé, soterraram o planeta com sua vulgaridade, feiúra e, olha só, indestrutibilidade. Julgando-os "descartáveis", só há pouco descobrimos que cada um levará cerca de 500 anos na natureza até ser absorvido por ela -se um dia o for.
Mas nem tudo se perdeu. O governo do Estado do Rio (por cujo comércio circulam um bilhão de sacos plásticos por ano, intoxicando mares, rios, parques, matas e trilhas) acaba de entrar com um projeto de lei propondo a substituição desses sacos por outros feitos de material orgânico e reutilizável, como malva ou algodão. Por inevitável, prevê multas pesadas para os comerciantes que não aderirem.
Esse projeto precisa passar, para servir de exemplo. E melhor ainda se os novos sacos tiverem o fundo chato e pararem em pé.


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