São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Editoriais

Palpite imprudente

A CRISE boliviana dá sinais de enfraquecimento enquanto avançam as frágeis negociações entre o presidente Evo Morales e os governadores oposicionistas. A pauta do primeiro encontro, marcado para ontem, incluía levante de bloqueios e desocupação de prédios oficiais, além de temas como autonomia dos departamentos e divisão dos recursos do gás.
A diplomacia brasileira atua bem até o momento; oferece ajuda sem, no entanto, imiscuir-se num assunto interno da Bolívia. Na reunião de governantes sul-americanos de segunda-feira, em Santiago, Brasília condicionou qualquer iniciativa de mediação internacional a um pedido do presidente boliviano, sem apontar soluções para os temas em disputa. Prestigiou-se a tradição brasileira de não-ingerência.
O presidente Lula, no entanto, escorregou ao comentar, anteontem, a expulsão do embaixador dos EUA da Bolívia, acusado de conspirar com a oposição. Ainda que o apoio de Lula à atitude de Morales tenha ficado no condicional -"no caso de o embaixador ter manifestado ingerência nos assuntos do país"-, foi uma declaração infeliz, em desacordo com a neutralidade que o Brasil persegue.
Em diplomacia, palavras importam -e as autoridades brasileiras deveriam medir muito bem todas as suas antes de referir-se à crise boliviana. O assunto da expulsão do embaixador americano diz respeito apenas à Bolívia e aos Estados Unidos.
Bravatas intervencionistas não são novidade em se tratando do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que ameaçou mandar armas para a Bolívia e entrou em altercações com o chefe das Forças Armadas bolivianas. Já de Lula se espera que mantenha o distanciamento não apenas nos atos da diplomacia, mas também nas manifestações públicas.


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