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CLÓVIS ROSSI
Parem o mercado, querem descer
SÃO PAULO - Dois momentos, separados por escassos 14 meses, dão
uma idéia perfeita da marcha acelerada da crise global.
Momento 1 - Na cúpula do G8, em
junho de 2007, o governo alemão, o
anfitrião de turno, queria que fosse
discutido algum tipo de código de
conduta para os agentes do mercado financeiro, em especial para os
"hedge funds", esses que apostam
em diferentes ativos para se proteger caso uma (ou mais de uma) das
apostas dê errado. Seria uma espécie de auto-regulação.
Explicava à época o ministro alemão de Finanças, Peer Steinbrueck,
que tais fundos especulativos representam "um risco sistêmico".
Por quê? Simples: "Alguns deles estão alavancados cinco, seis ou até
sete vezes, o que significa que os
credores podem ser seriamente
prejudicados se um desses fundos
se tornar insolvente", explicava
Steinbrueck.
Ou seja, previa tudo o que viria logo depois (a crise, então chamada
modesta e incorretamente de "crise
das subprime", estourou em agosto,
dois meses depois). Os Estados
Unidos rejeitaram a proposta alemã. Deu no que se vê.
Momento 2 - O presidente da poderosa Confederação Espanhola de
Organizações Empresariais, Gerardo Díaz Ferrán, fez anteontem a seguinte declaração: "Creio na liberdade de mercado, mas, na vida, há
conjunturas excepcionais. Pode-se
fazer um parêntesis na economia
de livre mercado".
Passou-se, pois, em meros 14
meses, de uma proposta de auto-regulação, típica medida de mercado,
à impossível hibernação do próprio
mercado.
Não se aceitou a primeira porque
os governos, todos, têm medo do
mercado e não o enfrentam. E, para
executar a segunda, seria preciso
que houvesse um estadista disponível no mercado de governantes capaz de apresentar alguma idéia,
uma que fosse, para organizar a farra. Você conhece algum?
crossi@uol.com.br
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