São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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UE EM JOGO

Nada é mais precioso nos mercados financeiros que o respeito às "regras do jogo". Numa negociação de dívida externa ou na avaliação de risco de crédito de países, austeridade compra confiança.
Pouco importa que os desequilíbrios de empresas ou de contas públicas tenham como origem não a irresponsabilidade ou o populismo, mas a instabilidade da própria economia ou a mudança de humor dos mercados. Romper as regras da prudência ou falhar no cumprimento de metas fiscais e financeiras é fatal.
Embora seja comum a ruptura das regras do jogo nas economias ditas periféricas, a crise global chegou a tal ponto que o fenômeno agora se manifesta na Alemanha e, de modo mais amplo, na União Européia.
O projeto de unificação europeu contou desde o início com a imposição de critérios bastante rígidos pela instituição de maior peso no sistema, o banco central da Alemanha.
Mas o presidente da Comissão Européia, o italiano Romano Prodi, fez duras críticas ao estatuto da estabilidade financeira. Para Prodi, "o pacto de estabilidade é estúpido, como todas as decisões que são rígidas".
As regras atuais, estabelecidas em 1999, impõem um teto para o déficit público de 3% do PIB. Os infratores devem pagar multas.
Mas não foi a Grécia -ou a Itália- que rompeu o regime de austeridade. São a Alemanha e a França que se mostram incapazes de respeitar as metas. Na prática, os europeus mudam as regras quando lhes convém. Já se prorrogou o prazo para atingir o equilíbrio fiscal de 2004 para 2006. Ainda não é suficiente. É o limite de 3% para o déficit público que, para Prodi, é ineficaz.
O drama europeu foi ainda mais claramente resumido pelo porta-voz da comissão européia, Jonathan Faull. Estúpida, na visão de europeus, é a "aplicação dogmática" de regras quando muda a conjuntura econômica em que elas se aplicam.
Mais que o respeito às regras do jogo, os líderes europeus buscam agora mais poder e legitimidade para jogar com as próprias regras.


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