São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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A BOMBA COREANA

A surpreendente revelação por parte de autoridades norte-coreanas de que o país possui armas atômicas e a insinuação de que pode até contar com armas químicas e biológicas comporta duas interpretações. Na mais benigna, que é a oficialmente sustentada pelo presidente da Coréia do Sul, Kim Dae-Jung, o vizinho do norte está disposto a tornar-se um país "normal". Para prová-lo, começou a falar francamente sobre assuntos que antes escondia.
Outros analistas, contudo, acreditam que a Coréia do Norte tenta agora mostrar-se para o mundo como uma ameaça maior do que de fato é. Por essa versão, os dirigentes norte-coreanos estariam convictos de que, parecendo mais fortes, obteriam maiores concessões de países como Coréia do Sul, Japão e EUA.
Ambas as interpretações fazem sentido, e parece precipitado excluir desde já uma delas. Sejam quais forem as reais intenções da Coréia do Norte, o mais notável nesta crise é o comportamento exibido pelos EUA. Apesar de George W. Bush ter incluído a Coréia do Norte no célebre "eixo do mal" -ao lado do Irã e do Iraque- e apesar de Pyongyang ter admitido que agiu clandestinamente, contrariando acordos, Washington deu indícios de que pretende lidar com a situação pela via diplomática.
É uma atitude que contrasta fortemente com a adotada em relação ao Iraque. Vale lembrar que Washington ameaça lançar um ataque militar contra Bagdá para impedir que Saddam Hussein desenvolva armas de destruição em massa. A Coréia do Norte, na visão de Bush um Estado delinquente exatamente como o Iraque, admite que possui esse tipo de armamento e não sofre a ameaça de ser bombardeada. Trata-se, claramente, da aplicação de uma política de dois pesos e duas medidas.
O mais importante nesse episódio é que ele mostra que os EUA são capazes de reagir com serenidade quando têm interesse em fazê-lo.


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