São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Perguntas sem respostas

RIO DE JANEIRO - Estão firmados os acordos para o segundo turno. Na realidade, nenhuma novidade: era de esperar a adesão de Garotinho e de Ciro Gomes à candidatura de Lula. E a adesão de parte substancial do PFL a Serra era também esperada. Os casos miúdos, esses também se colocaram no tabuleiro sem mortos nem feridos.
O jogo democrático foi feito. Nem por isso devemos ter motivos para louvá-lo e, muito menos, para dele esperar salvação pública. Os acordos foram feitos off the record e não tiveram por objeto os conceitos de cada partido. Oficialmente, para o público externo, foi invocada a sintonia programática de determinados grupos partidários com as candidaturas que sobreviveram ao primeiro turno.
Adversários do PT se declaram agora petistas desde criancinhas. O mesmo acontece, em escala menor, com os novos aliados de Serra.
Mas, por baixo do pano, o que prevaleceu -sabemos todos- foram os acordos de cargos, privilégios, demarcações de território, como acontece com os cachorros grandes, que criam guetos e zonas de influência.
É evidente que muitos compromissos agora assumidos serão reavaliados, esquecidos e, até mesmo, negados. Mas os acordos que foram feitos logo após o primeiro turno tiveram como base não apenas a eleição de um dos candidatos mas a garantia de que as equipes de cada derrotado serão compensadas e, de alguma forma, pagas.
O presidente eleito terá de se submeter não apenas às exigências da coligação inicial mas às das adesões de última hora para chegar ao Planalto. Existem acordos não de idéias, mas de interesses -e a pergunta que sempre me faço é justamente esta: até que ponto o interesse não é uma idéia em si mesma?
Trata-se sem dúvida de uma indagação cretina, mas logo podemos formular outra pergunta: até que ponto a política não é cretina em si mesma?


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