|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Desproporção na Câmara
BRASÍLIA - Houve muita histeria por causa da eleição de Enéas Carneiro
como deputado federal pelo Prona
por São Paulo. Ele teve 1.573.112 votos. Com sua votação, ajudou a eleger
outros cinco deputados. Aqui e ali se
ouviu que era um absurdo e uma demonstração de como o sistema eleitoral brasileiro está caduco e necessitado de ajustes.
Visível, esse caso inusitado de
Enéas encobre um outro problema
mais grave no sistema eleitoral brasileiro: a desproporção entre os eleitores dos Estados e o número de cadeiras que cada unidade da Federação
tem na Câmara.
Em São Paulo, votaram para deputado federal 19.611.558 de eleitores. Isso equivale a 22,40% dos votos para
deputado no país. Só que os paulistas
só têm 70 vagas na Câmara
-13,65% das 513 cadeiras.
No extremo oposto, está Roraima.
Apenas 168.972 roraimenses votaram
para deputado federal -0,19% do
total do Brasil. Ocorre que Roraima
tem direito a oito cadeiras na Câmara -1,56% do total.
Fosse o Brasil onde vigorasse o sistema de "um homem, um voto", São
Paulo teria 115 cadeiras na Câmara.
Roraima ficaria com um deputado.
Os opositores desse ajuste argumentam que os Estados do Norte e do
Nordeste (com superávit de cadeiras
na Câmara) seriam então solapados
pela hegemonia sulista. O subdesenvolvimento da região se tornaria
imutável. Não é bem assim.
As leis no Congresso são votadas separadamente pela Câmara e pelo Senado. No Senado, as 27 unidades da
Federação têm direito a três cadeiras
cada uma. A função dos senadores é
reequilibrar as decisões da Câmara.
Depois de todas as eleições, esse assunto volta. Morre em seguida. É
uma pena. Será assim sempre. Quem
tem o poder de modificar a Constituição são os deputados. Ainda está para nascer e depois ser eleita uma geração de congressistas capazes de votar a favor de algo que os prejudique.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: E, por falar em medo... Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Perguntas sem respostas Índice
|