São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Editoriais

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Das cinzas da crise

COM O tempo fica claro que as fases mais dramáticas da crise econômica em curso foram agravadas pela existência de um vácuo político. O fim de mandato do presidente americano e a polifonia dos líderes europeus pioraram a situação.
Nesse contexto, a urgência econômica funcionou como um presente para o premiê britânico Gordon Brown, um político em franco declínio até poucas semanas atrás. Autor do plano que se tornou modelo para muitos governos, ele conseguiu projetar-se na cena internacional e ressuscitou politicamente.
Um mês atrás, o premiê quase perdeu o cargo por falta de apoio em seu partido, o Trabalhista, o qual, dois meses antes, sofrera a pior derrota em 40 anos nas eleições locais. Brown serviu por uma década como ministro das Finanças de Tony Blair. Desde que o substituiu, em junho de 2007, sua popularidade caía.
A crise exigiu que mudasse sua doutrina. De crítico da regulação, tornou-se responsável por um pacote que estatizou boa parte do setor financeiro britânico. A gigantesca ação intervencionista foi a luz no fim do túnel para os europeus, sendo também copiada nos EUA. Agora Brown sugere uma segunda etapa para enfrentar a derrocada. Propõe a criação de um sistema de alerta global e a reforma do FMI.
A história da crise ainda está sendo escrita. Seria exagero comparar o britânico a estadistas como Franklin Roosevelt e Winston Churchill, que lideraram seus países em momentos dramáticos. Por ora, Gordon Brown foi apenas o político que melhor aproveitou a oportunidade para salvar sua carreira. Renasceu das cinzas da crise.


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