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CLÓVIS ROSSI
Caixinha de surpresas
MADRI - O mundo está redescobrindo uma obviedade, contida, por
exemplo, em escrito de James Madison. "Se os homens fossem anjos,
o governo não seria necessário", escreveu Madison (1751-1836), quarto presidente dos Estados Unidos.
Agora que o mundo financeiro
soltou todos os seus demônios, descobre-se que o governo é indispensável para cortar-lhes um pedaço
do rabo. Mas é só um pedacinho.
Não decorre daí que se esteja às
portas do comunismo, ao contrário
do que temem os ultraliberais.
Nem decorre que se esteja estatizando os bancos. Na prática, o que
está ocorrendo é o inverso: privatizam-se os recursos públicos e estatiza-se o risco -só o risco.
O governo abre os cofres, mas não
entra na administração dos bancos.
Hank Paulson, o secretário norte-americano do Tesouro, pode soltar
dinheiro, mas não pode determinar
que os bancos, em vez de apostar
em derivativos, financiem a juros
camaradas o trem-bala Nova York-Los Angeles.
Nem sei se é possível de fato enjaular todos os demônios. Dá, por
exemplo, para proibir que empresas apostem a favor da moeda do
país em que operam, como o fizeram -e perderam- Sadia, Aracruz
e Votorantim, fora as que ainda não
saíram do armário?
Ajudaria um pouquinho se os
economistas que adoram fazer previsões fossem obrigados, todos, a
adotar como papel de parede de
seus computadores a seguinte frase: "A economia, como o futebol, é
uma caixinha de surpresas". Logo,
previsões só sobre o passado.
Evitar-se-ia assim que a turma da
Goldman Sachs, quando o petróleo
chegou a US$ 147 em julho, previsse
o barril a US$ 200. O petróleo só fez
cair desde então. E os jornalistas
ainda acreditamos na história dos
Brics, potências mundiais a partir
de 2020, palpite da mesma Goldman Sachs que não acertou nem
2008. Imagine 2020.
crossi@uol.com.br
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