São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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RUY CASTRO

Guerra e "paz"

RIO DE JANEIRO - Nenhuma cidade foi mais satanizada do que Nova York nos anos 70. Para quem não a conhecia, parecia a última urbe do mundo a visitar.
Você seria assaltado no Central Park, morto no Harlem, achacado em Times Square, ver-se-ia no meio de uma perseguição de carros na Riverside Drive ou de uma chuva de balas na ponte do Brooklyn, cairia num conto do vigário na Broadway e, na melhor das hipóteses, teria a carteira batida no metrô.
A revista "Esquire" fez matéria ensinando o leitor a andar por Manhattan sem chamar a atenção dos bandidos. Uma palavra de ordem entre os cidadãos era "Don't get involved!" -se presenciasse algum delito, não se metesse, nem como testemunha. A cidade estava à mercê de gângsteres, traficantes, drogados, ladrões comuns, policiais corruptos e militantes do ódio racial.
Nessa época, trabalhando para uma revista americana na Europa, eu tinha de ir a Nova York com frequência. Exceto pelos bebuns, mendigos e toxicômanos caídos pelo Village (alguns com a agulha espetada no braço), nunca vi nada demais. É verdade que não me aventurava pelo Central Park à noite, nem pelo Harlem a qualquer hora, mas, também, não tinha nada a fazer lá.
Dez anos depois, Nova York parecia milagrosamente "limpa". Só não sei se isso se deu graças apenas à polícia. Os dissolutos do Village, disseram-me, foram atirados no Hudson, mas as gangues em guerra lutaram durante todos os anos 80 até que a disputa entre elas se definisse.
Hoje, uma guerra entre facções só termina quando uma dizima as outras e passa a reinar sozinha, com as bênçãos da polícia. Aconteceu, por exemplo, em algumas das nossas melhores cidades, que hoje vivem em "paz". Ajuda também quando você cria uma campanha de adesivos tipo "Eu coraçãozinho Nova York".


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