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RUY CASTRO
Guerra e "paz"
RIO DE JANEIRO - Nenhuma cidade foi mais satanizada do que Nova York nos anos 70. Para quem não
a conhecia, parecia a última urbe do
mundo a visitar.
Você seria assaltado no Central
Park, morto no Harlem, achacado
em Times Square, ver-se-ia no meio
de uma perseguição de carros na Riverside Drive ou de uma chuva de
balas na ponte do Brooklyn, cairia
num conto do vigário na Broadway
e, na melhor das hipóteses, teria a
carteira batida no metrô.
A revista "Esquire" fez matéria
ensinando o leitor a andar por Manhattan sem chamar a atenção dos
bandidos. Uma palavra de ordem
entre os cidadãos era "Don't get involved!" -se presenciasse algum
delito, não se metesse, nem como
testemunha. A cidade estava à mercê de gângsteres, traficantes, drogados, ladrões comuns, policiais corruptos e militantes do ódio racial.
Nessa época, trabalhando para
uma revista americana na Europa,
eu tinha de ir a Nova York com frequência. Exceto pelos bebuns,
mendigos e toxicômanos caídos pelo Village (alguns com a agulha espetada no braço), nunca vi nada demais. É verdade que não me aventurava pelo Central Park à noite,
nem pelo Harlem a qualquer hora,
mas, também, não tinha nada a fazer lá.
Dez anos depois, Nova York parecia milagrosamente "limpa". Só não
sei se isso se deu graças apenas à polícia. Os dissolutos do Village, disseram-me, foram atirados no Hudson, mas as gangues em guerra lutaram durante todos os anos 80 até
que a disputa entre elas se definisse.
Hoje, uma guerra entre facções
só termina quando uma dizima as
outras e passa a reinar sozinha, com
as bênçãos da polícia. Aconteceu,
por exemplo, em algumas das nossas melhores cidades, que hoje vivem em "paz". Ajuda também
quando você cria uma campanha de
adesivos tipo "Eu coraçãozinho Nova York".
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