São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO CHINESA

Com uma população de 1,2 bilhão de habitantes e uma economia que há mais de uma década experimenta taxas anuais de crescimento de 8% e cujo PIB já atinge US$ 1,2 trilhão, nenhuma análise sobre os próximos lances da política e da economia do planeta pode dar-se ao luxo de deixar a China de fora.
Se essa afirmação parece segura, bem menos certo parece o futuro político da cúpula dirigente chinesa. Jiang Zemin acaba de deixar a chefia do todo-poderoso Partido Comunista Chinês (PCC). Em seu lugar, subiu o vice-presidente Hu Jintao. A dúvida é se Jiang realmente perde poder e se Hu de fato ganha. Em algum grau, isso parece ser verdade. A secretaria-geral do PCC ainda é tecnicamente o cargo de maior poder na China. Mais ainda, Jiang está constitucionalmente obrigado a também deixar a Presidência do país em março próximo.
Mas Jiang, a exemplo de seu antecessor, Deng Xiaoping, parece ter conseguido manter-se, senão como homem-forte, ao menos como eminência parda do governo. Dos nove integrantes do Politburo, Jiang conseguiu indicar seis. Ele também foi capaz de manter-se como presidente da poderosíssima Comissão Militar Central, que lhe dá controle sobre o Exército de 2,5 milhões de soldados.
Hu, por sua vez, sai de algum modo fortalecido, mas de maneira nenhuma com plenos poderes. Seu perfil ainda é uma incógnita. Para alguns analistas ele é um reformista, para outros, um linha-dura.
Ao que parece, a China está apostando numa transição do tipo "lenta, gradual e segura", que privilegia a formação de consensos em lugar de apostar no confronto entre facções rivais. Tanto é assim que esta foi a mais tranquila das transições de poder na história da China comunista.
Ao que tudo indica, o objetivo principal do PCC continua sendo a estabilidade. Enquanto não houver sangrentas disputas pelo poder que prejudiquem o crescimento da economia, ninguém ousará desafiar o regime de partido único.


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