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Freio nas despesas
Compromisso com
redução de gasto público
facilitaria aproximação
entre a taxa de juros
brasileira e a mundial
AS VENDAS de bens duráveis apresentam crescimento significativo, alguns acima de 20%. Os indicadores sugerem que as vendas de Natal e de
final de ano poderão apresentar
um desempenho surpreendente.
Esse crescimento está associado ao aumento expressivo da
massa de rendimentos da população. O fato auspicioso é que o
poder de consumo de todos os
segmentos sociais tem evoluído.
O câmbio abaixo de R$ 2 exerce efeitos contraditórios na economia. No curto prazo, reduz os
custos dos componentes importados, diminuindo os preços de
um amplo espectro de produtos.
Até outubro, o preço de televisores, aparelhos de som e produtos
de informática recuou 6,18%, segundo o IBGE.
Em um horizonte mais longo,
contudo, o crescimento das importações acima das exportações, como tem ocorrido, vai
transformar o superávit comercial em déficit. Os analistas já
projetam que a conta corrente
-todas as transações de bens e
serviços com o exterior- será
negativa no próximo ano.
Parte da indústria exportadora
compensa as perdas no exterior
direcionando sua produção para
o mercado interno aquecido. Esse fenômeno permite que a economia cresça com ocupação da
capacidade instalada, a despeito
da valorização do real.
Os investimentos têm sido fracos nos segmentos de bens de
consumo e fortes nos setores que
produzem e exportam commodities. Preservar uma pauta de
exportações diversificada é um
objetivo estratégico para o país.
Foram os superávits comerciais
que eliminaram a vulnerabilidade externa da economia. Por isso, a volta dos déficits comerciais
estruturais e persistentes deveria ser evitada a todo custo.
A Fazenda acena com um novo
conjunto de medidas para inibir
a derrocada do dólar. No entanto, a fraqueza da economia americana e a enorme vantagem em
aplicar no Brasil -propiciada em
grande medida pelos juros elevados- transformam tentativas
pontuais de conter essa tendência numa tarefa de Sísifo.
Sem embargo das medidas paliativas -e de outras estruturantes para aumentar a competitividade das exportações-, o que vai
inibir a entrada de dólares especulativos no Brasil será a convergência entre a taxa de juros interna e a praticada no resto do
mundo. O conservadorismo excessivo do Banco Central tem
prejudicado a consecução desse
objetivo, mas apenas em parte.
A recusa do governo Lula de
adotar um sistema de frenagem
no chamado gasto público corrente -o que aumentaria a margem de manobra da política monetária- é um limitador poderoso para o alívio da carga de juros
(bem como da de tributos). Daí a
importância do debate no Senado em torno da CPMF, pois a negociação inclui um mecanismo
inédito de contenção dos gastos
com a manutenção da máquina.
A proposta do Planalto, no entanto, ainda é tímida e genérica
demais. O fato a comemorar é
que o governo provavelmente terá de ceder mais para vencer a
batalha do imposto do cheque.
Essa concessão deveria vir sob a
forma de um compromisso firme
e de longo prazo com o controle
de despesas.
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