São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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Freio nas despesas

Compromisso com redução de gasto público facilitaria aproximação entre a taxa de juros brasileira e a mundial

AS VENDAS de bens duráveis apresentam crescimento significativo, alguns acima de 20%. Os indicadores sugerem que as vendas de Natal e de final de ano poderão apresentar um desempenho surpreendente.
Esse crescimento está associado ao aumento expressivo da massa de rendimentos da população. O fato auspicioso é que o poder de consumo de todos os segmentos sociais tem evoluído.
O câmbio abaixo de R$ 2 exerce efeitos contraditórios na economia. No curto prazo, reduz os custos dos componentes importados, diminuindo os preços de um amplo espectro de produtos. Até outubro, o preço de televisores, aparelhos de som e produtos de informática recuou 6,18%, segundo o IBGE.
Em um horizonte mais longo, contudo, o crescimento das importações acima das exportações, como tem ocorrido, vai transformar o superávit comercial em déficit. Os analistas já projetam que a conta corrente -todas as transações de bens e serviços com o exterior- será negativa no próximo ano.
Parte da indústria exportadora compensa as perdas no exterior direcionando sua produção para o mercado interno aquecido. Esse fenômeno permite que a economia cresça com ocupação da capacidade instalada, a despeito da valorização do real.
Os investimentos têm sido fracos nos segmentos de bens de consumo e fortes nos setores que produzem e exportam commodities. Preservar uma pauta de exportações diversificada é um objetivo estratégico para o país. Foram os superávits comerciais que eliminaram a vulnerabilidade externa da economia. Por isso, a volta dos déficits comerciais estruturais e persistentes deveria ser evitada a todo custo.
A Fazenda acena com um novo conjunto de medidas para inibir a derrocada do dólar. No entanto, a fraqueza da economia americana e a enorme vantagem em aplicar no Brasil -propiciada em grande medida pelos juros elevados- transformam tentativas pontuais de conter essa tendência numa tarefa de Sísifo.
Sem embargo das medidas paliativas -e de outras estruturantes para aumentar a competitividade das exportações-, o que vai inibir a entrada de dólares especulativos no Brasil será a convergência entre a taxa de juros interna e a praticada no resto do mundo. O conservadorismo excessivo do Banco Central tem prejudicado a consecução desse objetivo, mas apenas em parte.
A recusa do governo Lula de adotar um sistema de frenagem no chamado gasto público corrente -o que aumentaria a margem de manobra da política monetária- é um limitador poderoso para o alívio da carga de juros (bem como da de tributos). Daí a importância do debate no Senado em torno da CPMF, pois a negociação inclui um mecanismo inédito de contenção dos gastos com a manutenção da máquina.
A proposta do Planalto, no entanto, ainda é tímida e genérica demais. O fato a comemorar é que o governo provavelmente terá de ceder mais para vencer a batalha do imposto do cheque. Essa concessão deveria vir sob a forma de um compromisso firme e de longo prazo com o controle de despesas.


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