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CLÓVIS ROSSI
Tá tudo dominado?
SÃO PAULO - Do ministro da Defesa, Nelson Jobim: a participação
de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na Operação
Satiagraha, da Polícia Federal, é
uma "distorção de função", posto
que a Constituição diz que "quem
tem poder de investigação criminal
são as polícias".
Do delegado da Polícia Federal
Carlos Eduardo Magro, que participou da Satiagraha: as críticas à investigação não passam de "uma
reação do crime organizado".
Qualquer pessoa normal somará
um mais um e dirá que Nelson Jobim faz parte do crime organizado,
na visão de uma delegado da PF.
Aliás, o chefe de Magro, o ministro da Justiça Tarso Genro, também entra forçosamente na lista de
suspeitos: na semana passada
apontou "problemas técnicos" no
inquérito resultante da Satiagraha.
A lista, de resto, só incluiria funcionários públicos, muitos da própria PF, os únicos que criticaram
até agora a Satiagraha, já que o crime organizado não tem porta-vozes, que se saiba.
Tanto é assim que, na semana
passada, a Folha publicou um título genial para demonstrar que, no
caso Satiagraha, estavam em curso
mais investigações sobre os investigadores do que sobre os investigados. Outra jabuticaba, produto tipicamente brasileiro.
Agora, com as declarações de Pellegrini Magro, o cidadão normal,
que não é nem investigado nem investigador, fica no direito de suspeitar de uma de duas coisas: ou o
crime organizado espraiou-se pelas
instâncias governamentais e policiais muito mais do que se supunha
ou a Polícia Federal abriga um
leviano, capaz de lançar tal suspeição sobre figuras do governo, inclusive sobre seu chefe, o ministro da Justiça.
Afinal, Pellegrini Magro disse
também que a PF investiga "infiltração do crime organizado em determinados Poderes".
Tá tudo dominado?
crossi@uol.com.br
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