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ANTONIO DELFIM NETTO
Insuficiente
AS MEDIDAS de socorro às
atividades financeiras tomadas em todo o mundo desenvolvido e, com maior ou menor
vigor, em todos os países emergentes, dão sinais que começam a funcionar. Isso se vê pela redução (ainda pequena) da taxa Libor dos juros nas transações interbancárias.
A crise que estamos vivendo simplesmente iluminou um fato conhecido desde sempre: a confiança
entre os agentes é o ingrediente necessário à existência de toda a atividade econômica que se processa
através dos mercados. Estes, por
sua vez, só podem existir quando
amparados num Estado capaz de
garantir a propriedade privada que
permite aos cidadãos apropriarem-se dos benefícios de sua liberdade de iniciativa e assegurar a
execução dos contratos estabelecidos entre eles.
O problema da "confiança" é
multifacetário (antropológico, psicológico, sociológico, econômico,
teológico etc.). Já em 1979, Luhmann mostrou que esse conceito,
fundamental para explicar o comportamento das sociedades tradicionais, era também central para
entender o funcionamento das sociedades cuja complexidade de relações é crescente, a incerteza é generalizada, e os riscos, inevitáveis.
Maximizando o reducionismo,
podemos dizer que: 1º) a confiança
envolve risco; 2º) o "principal"
(quem confia) não tem condições
de monitorar permanentemente o
"agente" (em quem confia) e 3º) o
"principal" não confia apenas no
"agente". Espera (confia) que o Estado o substitua no seu controle.
Quando, por qualquer motivo, desaparece a confiança, os sistemas
financeiros e produtivo entram em
colapso. O governo inglês foi o primeiro a reconhecer que a crise era
algo mais profundo do que um problema de liquidez. Tratava-se da
morte súbita da confiança, o fator
catalítico que controla toda a atividade econômica, o que exigia uma
ação enérgica e radical do Estado.
No Brasil, é preciso reconhecer
que o governo agiu corretamente e
com razoável rapidez, mas sem a
radicalidade necessária. O que se
fez até agora não será suficiente para minimizar o custo (inevitável)
da retração mundial sobre a economia brasileira. É ilusão pensar que
o crescimento de 2009 está escrito
nas estrelas ou em 2008. Ele será o
que soubermos fazer dele com inteligência e alguma ousadia.
O governo tem sido expedito,
mas tímido e desajeitado, em dar o
"conforto" ao setor privado para
restabelecer a confiança geral. Isso
é evidente no que se refere às instituições financeiras menores (mas
não menos hígidas!) que financiam
a pequena indústria e o pequeno
comércio, responsáveis pela maioria dos empregos.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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