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CARLOS HEITOR CONY
Dr. Jekill & Mr. Hyde
RIO DE JANEIRO - O Dr. Jekill
era um médico competente. Acima
de tudo, um homem decente. Mr.
Hyde era um maníaco sexual que
chegou a praticar crimes de morte.
Os dois conviviam no mesmo indivíduo, a passagem do bem para o
mal era a conseqUência de pesquisas em que o médico queria penetrar na alma humana.
Sem chegar a tal e tanto radicalismo, nem para o bem nem para o
mal, Fernando Collor teve sua acidentada experiência de Mr. Hyde.
Foi punido, sofrendo impeachment
na Presidência da República e tendo seus direitos cassados. Cumpriu
as duas penas e foi devolvido à sociedade "in albis", ou seja, em condições de se reabilitar como cidadão e político.
Recentemente, pisou outra vez
na bola. Numa altercação com um
colega do Senado, espantou a nação
com a virulência de sua resposta e
sua expressão facial: ponto para Mr.
Hyde.
Entretanto, o Dr. Jekill começa a
despontar em sua participação na
vida nacional, presidindo importante comissão no Senado da República. O relatório que apresentou
sobre os trabalhos dirigidos por ele
é uma peça que honraria qualquer
homem público. Seus colegas reclamam que ele começa a trabalhar às
8h30, sabe cobrar resultados, redige bem e fala ainda melhor.
Pouco a pouco, a estranheza que
provocara entre seus pares, obrigados a conviver com um réprobo, vai
se diluindo diante da evidência de
sua capacidade de trabalho e sua
correção para com os assuntos importantes, como o aviso que deixou
sobre a exploração do pré-sal, contrariando o otimismo desvairado de
parte do governo e dos otimistas
profissionais.
Tudo agora dependerá somente
dele na reconquista de seu prestígio
como homem público. O Dr. Jekill
tem muito trabalho pela frente para
que esqueçamos o Mr. Hyde.
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