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Com a mesma cara
Manter Guido Mantega (e talvez Henrique Meirelles) é vantajoso para a transição, mas pode não ser o mais indicado para o futuro
Há uma certeza em matéria de
formação de ministérios: tudo pode mudar até que oficialmente se
conheçam os indicados. Quem
acompanha o noticiário acerca da
futura equipe da presidente eleita
Dilma Rousseff não terá deixado
de perceber a dança de nomes e
funções. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho, por
exemplo, já foi cotado para a Casa
Civil e a Saúde, mas nos últimos
dias parecia a caminho de uma
reestruturada Secretaria Geral da
Presidência da República.
Nesse jogo de pressões, balões
de ensaio e muita especulação, algumas definições vão no entanto
surgindo -e confirmam a impressão de que o primeiro time da futura presidente terá novidades, mas
preservará, ao menos no início,
feições do ministério de Lula.
A notícia de que Guido Mantega
prosseguirá na Fazenda, conforme a Folha havia antecipado na
edição de ontem, confirma essa
tendência de deslizamento de setores do atual governo para o começo do próximo.
Prosseguir com Mantega -e talvez com Henrique Meirelles no
Banco Central- teria a vantagem
de propiciar à presidente eleita
um princípio de mandato com menos turbulências numa área estratégica e sensível a especulações.
Embora as relações entre os
dois possam ser vistas como conflituosas, pelo perfil mais "desenvolvimentista" do titular da Fazenda e a inclinação "ortodoxa"
do banqueiro, o antagonismo
transcorre de maneira já perfeitamente codificada, dentro de limites conhecidos. Por mais que divirjam -o que não deixa de ser um
aspecto saudável e útil para o presidente- sabe-se que a disputa
não chegará ao ponto da ruptura.
Há, além disso, o conhecimento
que ambos detêm da operação em
suas áreas e o reconhecimento
conquistado nos fóruns nacionais
e internacionais.
Se ao ex-ministro Palocci deve-se conceder boa parte dos méritos
pela continuidade das diretrizes
sensatas do período Fernando
Henrique Cardoso, não há dúvida
de que Meirelles, inicialmente visto com alguma desconfiança, soube reforçar a autoridade do BC.
Quanto a Mantega, que chegou
à pasta cercado de interrogações,
terminou por se mostrar efetivo
em momentos decisivos, como no
enfrentamento da crise financeira
global de 2008.
A provável desvantagem de
mantê-los em seus cargos está no
fato de que o cenário mudou -para pior- e o próximo governo precisará promover uma inflexão na
política econômica. A pergunta
que se faz é se seriam os dois os
melhores nomes para a tarefa.
Além do efeito "fadiga de material", a gestão de Mantega está
longe de ter se notabilizado por
bons resultados fiscais. Artifícios
foram usados para gerar saldos
nas contas públicas e recursos foram direcionados para políticas e
finalidades no mínimo duvidosas.
Quanto a Meirelles, cuja permanência é um tanto incerta, questiona-se até que ponto reuniria
condições de resistir às injunções
políticas. No mercado financeiro
avalia-se que o BC teria deixado se
influenciar por conveniências
eleitorais ao interromper a alta da
taxa de juros neste ano.
Manter a atual equipe econômica seria sem dúvida vantajoso à
transição entre os dois governos,
mas pode não ser o mais indicado
para fazer decolar as novas políticas de que o país precisa.
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