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O ciclo mudou
Quando a economia vai bem, como agora, cabe ao Estado ajustar suas contas e preparar-se para futuras turbulências
O MERCADO de especulações está repleto de
fórmulas que seriam
adotadas pelo governo
para ajustar o Orçamento ao fim
da CPMF. Levando em conta a
correta decisão do presidente
Lula de recusar mais endividamento para arcar com despesas
não-financeiras, resta saber em
que proporção serão ministrados dois tipos de medida: corte
de gastos e aumento de tributos.
Se parece inevitável elevar alíquotas no curto prazo, esse recurso só deveria ser acionado
após esgotadas as opções de contenção e corte de despesas. Além
de contrariar a claríssima mensagem da sociedade por alívio
nos impostos, mexer de chofre
no IOF, no IPI, na CSLL e na Cofins só pelo fato de sua manipulação ser mais fácil para o Executivo tende a tornar ainda mais disfuncional a partilha da carga.
Governo e Congresso negociam a redução de gastos orçamentários nos três Poderes.
Além dessa discussão necessária
de varejo, surge mais uma oportunidade de implementar mecanismos que freiem a escalada
-muito acima da capacidade de
financiamento do Estado em
longo prazo- de grandes grupos
de despesa. É o caso dos dispêndios da Previdência provocados
pelo aumento do salário mínimo.
Enquanto o PIB acumulou alta
de 30% de 1999 para cá, o valor
do salário mínimo superou a inflação do período em 57%. Associada à proliferação de programas depois aglutinados no Bolsa
Família, a política de aumento
do piso salarial foi importante
para assegurar um mínimo de
poder de compra à população
mais pobre. Com o mercado de
trabalho desaquecido, abalado
por uma sucessão de crises econômicas, justificou-se a opção de
transferir parcela crescente do
dinheiro dos impostos para os
setores sociais mais vulneráveis.
Decerto se pode questionar o
mecanismo dessa política de
bem-estar, que privilegiou despesas da Previdência e se valeu
dos valores vinculados ao mínimo. O importante agora, contudo, é reavaliar essa opção tomada
por sucessivos governos e legislaturas à luz de uma melhora significativa na economia, de um lado, e da necessidade de equilibrar as contas públicas, do outro.
Mais de 65% dos benefícios pagos pela Previdência são vinculados ao salário mínimo. O programa de distribuição de renda pela
via previdenciária foi um dos fatores que ajudaram a aumentar
depressa o peso do INSS nas despesas públicas. Os gastos nessa
rubrica, que eram 5,5% do PIB
em 1999, deverão atingir a marca
de 7,2% do PIB neste ano, calcula
o economista Fabio Giambiagi.
A expansão da despesa previdenciária com relação ao PIB, de
31,5% no período, superou a
marcha dos gastos primários (todas as despesas, excluídos os juros) do governo federal, cuja participação no PIB cresceu 22,6%.
A boa prática econômica e a
gestão pública prudente recomendam colocar um freio nos
gastos de bem-estar nos momentos em que o mercado de trabalho se expande, como agora. Enquanto a dinâmica da economia
é capaz de propiciar melhora no
poder de compra da população, o
Estado deve poupar, equilibrar
as contas e preparar-se para um
novo ciclo de retração à frente.
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