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Monstruosidades
É MOEDA corrente nos debates acerca da segurança pública a oposição entre a "linha dura", de um lado, e os partidários dos direitos humanos, do
outro. Segundo essa crença, um
governo sempre escolhe entre
uma dessas vias e necessariamente desguarnece a outra.
Monstruosidades como os casos do adolescente Carlos Rodrigues -morto no interior paulista
com mais de 30 lesões causadas
por choques elétricos- e da garota L. -trancafiada numa cela
masculina no Pará, onde era estuprada e torturada- redespertam aquela velha dicotomia.
Na falta de dados básicos sobre
o uso ilegal da violência por
agentes públicos, vicejam comentários que pouco se distanciam do palpite ou da obviedade.
A tortura no Brasil seria "generalizada" e cada vez mais permitida, no embalo da preocupação da
sociedade com a insegurança.
A última idéia contraria uma
tendência histórica. Do fim do
regime militar para cá, houve um
aumento contínuo dos controles
sociais sobre a força policial. Ministério Público, Justiça, câmaras legislativas, corregedorias,
organizações civis e imprensa só
fizeram reforçar a vigilância sobre os agentes aos quais a lei concede o uso da violência legítima.
A resposta enérgica e imediata
à eclosão de escândalos como o
do Pará e de Bauru continua sendo a melhor maneira de inibir,
pelo exemplo, a truculência de
alguns agentes públicos. Responsáveis precisam ser afastados, processados e condenados
num espaço de tempo que não
seja a perder de vista.
Restam poucas medidas genéricas capazes de ampliar o controle sobre a polícia sem que isso
signifique tolher sua capacidade
de combater o crime. Entre elas
está a sugestão da comissária da
ONU Louise Arbour de que todos os interrogatórios passem a
ser gravados em áudio e vídeo.
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