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FERNANDO RODRIGUES
Nuances entre Chile e Brasil
BRASÍLIA - Depois de 20 anos, o
grupo ocupante do poder no Chile
foi derrotado. Venceu a eleição presidencial o conservador Sebastián
Piñera. Perdeu Eduardo Frei,
apoiado pela atual presidente, Michelle Bachelet -cuja popularidade
está na casa dos 80%.
Tucanos e petistas têm propagado analogias entre o processo eleitoral chileno e o brasileiro. No
PSDB, o raciocínio hegemônico é só
intuitivo. Lula tem aprovação de até
80%. Logo, não é certo que haverá
transferência direta de votos do
presidente para sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff.
Petistas rebatem. Apontam a
possível fadiga de material sofrida
pelo grupo de Bachelet após 20 anos contínuos no poder.
São observações políticas. Têm
algum valor. Mas o aspecto mais relevante a ser considerado talvez seja outro: o estado da economia.
No Chile, o clima geral é ruim.
Conforme relatou Thiago Guimarães para a Folha, o PIB chileno
avançou a uma média anual de
6,6% nos anos 90. Caiu a 4,3% na
primeira metade desta década. Sob
Bachelet, o ritmo recuou a 2,7%. No
ano passado, deve ter ocorrido queda de 1,6%. O desemprego em 2008
era de 7%. Agora está em 9%.
Ao votar, certamente o eleitor
chileno levou em conta a parte mais sensível do corpo: o bolso.
No Brasil, o cenário é quase antípoda ao chileno. Quando Lula tomou posse, a taxa de desemprego
rondava os 13%. Hoje, está perto de
8%. O PIB de 2009 estagnou, mas
não é o recuo amargado pelos chilenos. Neste ano, o crescimento deve
ficar na redondeza de 5%. Tudo coroado pelo Bolsa Família, distribuição de dinheiro a cerca de 50 milhões de pessoas pobres.
Como se observa, a condição objetiva da economia no Brasil é mais
favorável ao governo. No Chile,
deu-se o oposto. Essa conjuntura,
por óbvio, não torna inexorável
uma vitória do PT. Só é um fator
não desprezível na comparação do
quadro eleitoral dos dois países.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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