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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Piñera lá, Serra aqui
SÃO PAULO - Apesar da declaração de José Serra, de que preferia
ver Eduardo Frei, o nome da Concertação, eleito presidente no Chile, a vitória do candidato da direita,
o empresário Sebastián Piñera,
causou certo alvoroço no ninho tucano. A razão: Michelle Bachelet,
cujo governo é aprovado por mais
80% da população, não conseguiu
transformar seu prestígio em votos
para eleger seu sucessor. Logo...
É melhor ter cuidado antes de
comparar Bachelet e Lula, Frei e
Dilma, Piñera e Serra. Qualquer
tentativa de transplante do que se
passou na eleição chilena para a sucessão brasileira deve iniciar pelas
brutais diferenças entre os países.
A população chilena (17 milhões)
é próxima à da Grande São Paulo. O
Chile é uma sociedade muito mais
homogênea, mais alfabetizada, sem
as nossas disparidades regionais e
de renda. A história política recente
dos países também é diferente. A
Concertação -coalizão que tem no
partido Socialista e na Democracia
Cristã seus dois pilares- está no
poder desde o fim da ditadura, há
20 anos e quatro governos.
Analistas chilenos atribuem a vitória apertada de Piñera à conquista de uma classe média recém-estabelecida, seduzida na campanha
por um discurso que pregou a "mudança" muito mais como sinônimo
de "novas oportunidades" e "alternância de poder" do que de ruptura
em relação à gestão Bachelet.
A figura de Eduardo Frei -um
ex-presidente, de resto quase tão
conservador quanto Piñera- servia
bem aos propósitos do empreendedor arrojado e esportista, que soube
explorar a "fadiga de material" de
uma coalizão "sem combustível".
Não foi à toa que o jovem deputado Marco Ominami, dissidente da
Concertação à esquerda, atingiu
20% dos votos no primeiro turno.
Compará-lo a Ciro Gomes já seria
forçar a barra. O quadro por aqui é
totalmente diverso e não sabemos
como vai se comportar a base social
do lulismo. Mas a ideia de que a população pode aprovar um governo e
ainda assim optar pela mudança joga luz no túnel estreito da oposição.
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