São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Piñera lá, Serra aqui

SÃO PAULO - Apesar da declaração de José Serra, de que preferia ver Eduardo Frei, o nome da Concertação, eleito presidente no Chile, a vitória do candidato da direita, o empresário Sebastián Piñera, causou certo alvoroço no ninho tucano. A razão: Michelle Bachelet, cujo governo é aprovado por mais 80% da população, não conseguiu transformar seu prestígio em votos para eleger seu sucessor. Logo...
É melhor ter cuidado antes de comparar Bachelet e Lula, Frei e Dilma, Piñera e Serra. Qualquer tentativa de transplante do que se passou na eleição chilena para a sucessão brasileira deve iniciar pelas brutais diferenças entre os países.
A população chilena (17 milhões) é próxima à da Grande São Paulo. O Chile é uma sociedade muito mais homogênea, mais alfabetizada, sem as nossas disparidades regionais e de renda. A história política recente dos países também é diferente. A Concertação -coalizão que tem no partido Socialista e na Democracia Cristã seus dois pilares- está no poder desde o fim da ditadura, há 20 anos e quatro governos.
Analistas chilenos atribuem a vitória apertada de Piñera à conquista de uma classe média recém-estabelecida, seduzida na campanha por um discurso que pregou a "mudança" muito mais como sinônimo de "novas oportunidades" e "alternância de poder" do que de ruptura em relação à gestão Bachelet.
A figura de Eduardo Frei -um ex-presidente, de resto quase tão conservador quanto Piñera- servia bem aos propósitos do empreendedor arrojado e esportista, que soube explorar a "fadiga de material" de uma coalizão "sem combustível".
Não foi à toa que o jovem deputado Marco Ominami, dissidente da Concertação à esquerda, atingiu 20% dos votos no primeiro turno.
Compará-lo a Ciro Gomes já seria forçar a barra. O quadro por aqui é totalmente diverso e não sabemos como vai se comportar a base social do lulismo. Mas a ideia de que a população pode aprovar um governo e ainda assim optar pela mudança joga luz no túnel estreito da oposição.


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