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MAIS TRANSPLANTES
O anúncio de que o número de
transplantes realizados no Brasil subiu 12,5% em 1998, embora não indique melhora substancial na situação
de escassez de órgãos, dá ensejo a algum alento. Afinal, desde 1993 não
se registrava aumento de doadores.
O número de transplantes, como
revelou reportagem desta Folha, ainda se mostra desapontadoramente
baixo. Na especialidade em que há
melhor atendimento da demanda, a
transferência de rins, somente 20%
das operações necessárias são realizadas. No caso de coração e fígado,
alcançam-se apenas 5%; no de pulmão, angustiante 1%.
Disponibilidade e aproveitamento
de órgãos permanecem obviamente
como dificuldade central. Mesmo
com o pequeno progresso, no Brasil
ainda ocorrem parcas 3,5 doações
por milhão de habitantes, contra 29
na Espanha e 20 nos Estados Unidos.
Resultado: listas de espera que só fazem aumentar, tanto em candidatos
como em agonia.
Na avaliação da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, o ligeiro aumento de eficiência decorre
da unificação das listas de receptores
em centrais estaduais, dispositivo de
transparência introduzido pela Lei de
Transplantes, e da melhor preparação de hospitais para captar e encaminhar órgãos. A meta é ter um encarregado de coordenar as atividades
em cada instituição.
Aparentemente, essas iniciativas teriam sido suficientes para ao menos
contrabalançar a reação surgida com
a polêmica da doação presumida. Essa outra inovação -precipitada, ainda que bem-intencionada- da Lei de
Transplantes contribuiu paradoxalmente para avivar temores difusos
sobre tráfico de órgãos e outras situações macabras.
Esteve correto o governo federal
quando revogou a doação presumida, em outubro passado. Agora, cabe
às autoridades perseverar, esclarecendo o público sobre a importância
da doação e aparelhando hospitais
para garantir aproveitamento máximo dos órgãos salvadores.
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