São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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MAIS TRANSPLANTES

O anúncio de que o número de transplantes realizados no Brasil subiu 12,5% em 1998, embora não indique melhora substancial na situação de escassez de órgãos, dá ensejo a algum alento. Afinal, desde 1993 não se registrava aumento de doadores.
O número de transplantes, como revelou reportagem desta Folha, ainda se mostra desapontadoramente baixo. Na especialidade em que há melhor atendimento da demanda, a transferência de rins, somente 20% das operações necessárias são realizadas. No caso de coração e fígado, alcançam-se apenas 5%; no de pulmão, angustiante 1%.
Disponibilidade e aproveitamento de órgãos permanecem obviamente como dificuldade central. Mesmo com o pequeno progresso, no Brasil ainda ocorrem parcas 3,5 doações por milhão de habitantes, contra 29 na Espanha e 20 nos Estados Unidos. Resultado: listas de espera que só fazem aumentar, tanto em candidatos como em agonia.
Na avaliação da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, o ligeiro aumento de eficiência decorre da unificação das listas de receptores em centrais estaduais, dispositivo de transparência introduzido pela Lei de Transplantes, e da melhor preparação de hospitais para captar e encaminhar órgãos. A meta é ter um encarregado de coordenar as atividades em cada instituição.
Aparentemente, essas iniciativas teriam sido suficientes para ao menos contrabalançar a reação surgida com a polêmica da doação presumida. Essa outra inovação -precipitada, ainda que bem-intencionada- da Lei de Transplantes contribuiu paradoxalmente para avivar temores difusos sobre tráfico de órgãos e outras situações macabras.
Esteve correto o governo federal quando revogou a doação presumida, em outubro passado. Agora, cabe às autoridades perseverar, esclarecendo o público sobre a importância da doação e aparelhando hospitais para garantir aproveitamento máximo dos órgãos salvadores.



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