|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FHC, o autista
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Quando Luís Nassif escreveu, dias atrás, que o presidente
Fernando Henrique Cardoso parecia
sofrer de autismo, admito que me pareceu um certo exagero. Agora, peço
desculpas a Nassif.
A fala do presidente pelo rádio, ontem, é a prova definitiva de que FHC
parece ter perdido o contato com a
realidade.
O presidente começa por dizer que
foi obrigado a deixar que houvesse a
desvalorização do real. Aí, engata:
"Por que nós fizemos isso? Porque,
para evitar isso, teríamos que aumentar ainda mais a taxa de juros, teríamos que penalizar ainda mais aqueles
que são produtores do Brasil. Diminuiria a oferta de emprego e poderia
haver o risco de uma recessão prolongada."
Beleza. Então, por que diabos, além
de ter desvalorizado a moeda, o governo aumentou os juros, umas poucas
horas antes da fala de FHC pelo rádio?
Depois, o presidente jura que, com a
desvalorização, "não haverá impacto
direto nenhum sobre o bolso do povo
brasileiro. Aquele que trabalha, aquele que não está sendo obrigado a viajar ou aquele que não compra carro
importado -e a imensa maioria não
compra carro importado nem produtos importados- não vai sofrer nenhum efeito do valor do dólar".
Ótimo. Fantástico. Maravilhoso. Só
cabem duas dúvidas:
1 - Se só os consumidores de importados ou os que fazem turismo externo
vão sentir o efeito da desvalorização,
por que raios ela não foi feita antes?
2 - Por que até o ministro Pedro Malan, que é um poço fundo de discrição,
admite que a inflação este ano poderá
bater em 6%, talvez 8%, por culpa da
desvalorização? Ou o ministro entrou
para o coro dos fracassomaníacos ou o
presidente não sabe o que diz.
O pior de tudo é que a fala do presidente emenda com o seguinte:
"É claro que o governo vai continuar
olhando." Foi só para olhar que ele fez
tanta questão da reeleição?
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|