São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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FHC, o autista

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Quando Luís Nassif escreveu, dias atrás, que o presidente Fernando Henrique Cardoso parecia sofrer de autismo, admito que me pareceu um certo exagero. Agora, peço desculpas a Nassif.
A fala do presidente pelo rádio, ontem, é a prova definitiva de que FHC parece ter perdido o contato com a realidade.
O presidente começa por dizer que foi obrigado a deixar que houvesse a desvalorização do real. Aí, engata:
"Por que nós fizemos isso? Porque, para evitar isso, teríamos que aumentar ainda mais a taxa de juros, teríamos que penalizar ainda mais aqueles que são produtores do Brasil. Diminuiria a oferta de emprego e poderia haver o risco de uma recessão prolongada."
Beleza. Então, por que diabos, além de ter desvalorizado a moeda, o governo aumentou os juros, umas poucas horas antes da fala de FHC pelo rádio?
Depois, o presidente jura que, com a desvalorização, "não haverá impacto direto nenhum sobre o bolso do povo brasileiro. Aquele que trabalha, aquele que não está sendo obrigado a viajar ou aquele que não compra carro importado -e a imensa maioria não compra carro importado nem produtos importados- não vai sofrer nenhum efeito do valor do dólar".
Ótimo. Fantástico. Maravilhoso. Só cabem duas dúvidas:
1 - Se só os consumidores de importados ou os que fazem turismo externo vão sentir o efeito da desvalorização, por que raios ela não foi feita antes?
2 - Por que até o ministro Pedro Malan, que é um poço fundo de discrição, admite que a inflação este ano poderá bater em 6%, talvez 8%, por culpa da desvalorização? Ou o ministro entrou para o coro dos fracassomaníacos ou o presidente não sabe o que diz.
O pior de tudo é que a fala do presidente emenda com o seguinte:
"É claro que o governo vai continuar olhando." Foi só para olhar que ele fez tanta questão da reeleição?



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