São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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CÂMBIO EM XEQUE

As pressões de baixa sobre a cotação do dólar no Brasil foram reforçadas pela decisão do governo de isentar de Imposto de Renda o investidor estrangeiro que aplica em títulos da dívida pública interna. A perspectiva de reforço da entrada de dólares se fortaleceu, e os operadores do mercado já se anteciparam a essa eventualidade.
A queda do dólar traz, a curto prazo, várias implicações cômodas: ajuda no controle da inflação, alivia os setores que têm dívida em dólar, barateia importações. Um processo prolongado e profundo de apreciação do real, porém, teria potencial significativo de ruptura.
Os alertas dos setores prejudicados pela valorização do real têm encontrado pouca acolhida. Pesa contra essas queixas o desempenho amplamente superavitário do comércio exterior. Mas levantamentos mostram perda de participação das exportações brasileiras em mercados estratégicos, de bens manufaturados de maior valor agregado. Dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) indicam que a quantidade exportada de manufaturas brasileiras, que se expandia com velocidade ao longo de 2005, já transitou para a virtual estagnação.
Desdobramentos recentes ampliaram a margem para reduzir a taxa de juros básica da economia. São muitos os que apontam a oportunidade de acelerar essa redução. Cortar os juros com rapidez seria não apenas oportuno mas necessário. Já não se trata somente de aliviar os setores endividados em reais e soltar uma amarra que emperra o dinamismo da economia. Trata-se de evitar a imensa imprudência de permitir que o movimento de apreciação progressiva do real se aprofunde e se prolongue por muito tempo.
A inflação demonstra comportamento favorável, tendo seu índice atingido nível próximo da meta definida para este ano. Não há justificativa para, em nome do esforço de controlar a inflação, contribuir para um movimento de valorização cambial que já se revela francamente ameaçador para a competitividade do setor produtivo e a estabilidade futura da economia.


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